É interessante notar como a evolução de algumas tecnologias costuma ocorrer de forma muito mais rápida do que a prevista por especialistas. O livro “Organizações Exponenciais”, de Salim Ismail, Yuri Van Gees e Michael S. Malone, traz alguns insights interessantes a esse respeito.
Voltando um pouco na história, na década de 1980, os telefones móveis eram volumosos e custosos para seus usuários dadas as altas tarifas de utilização. Contratada pela AT&T, uma das maiores consultorias estratégicas do mundo previu que nos anos 2000 haveria apenas 1 milhão de celulares e, portanto, recomendou à empresa americana não entrar nesse segmento. Na verdade, em 2000, havia 100 milhões de celulares. Um erro de “apenas” 99%, que custou à companhia o desenvolvimento desse mercado e alguns bilhões de dólares.
Esse comportamento não é uma exclusividade do mercado de telefonia móvel. De acordo com os autores, o custo médio de uma impressão 3D saiu de US$ 40 mil em 2007 para US$ 100 em 2014 (uma escala de 400 vezes em sete anos) e o custo de um drone passou de US$ 100 mil em 2007 para US$ 700 em 2013 (uma escala de 142 vezes em seis anos).
Fica claro o poder da tecnologia nas mais diversas aplicações e, mais importante, a dificuldade de nossas mentes lineares de entender ou projetar retornos exponenciais dado o poder de disrupção dessas invenções.
Nesse contexto, percebo que o vaivém da Bolsa, em especial nessas últimas semanas, tem causado desconforto nos investidores. Nossas mentes lineares, desejosas de trajetórias bem-comportadas, não toleram a maior volatilidade do mercado.
Não quero aqui menosprezar os diversos desafios enfrentados pelo mercado nos últimos meses. Depois de atravessarmos uma das maiores pandemias da história, uma inflada sem precedentes do balanço dos bancos centrais e interrupções importantes nas cadeias de suprimento, o mundo segue tentando lidar com uma guerra e suas consequências, trazendo reflexos para o mercado acionário. No ano, o S&P 500 cai 12% e o Nasdaq já se encontra em bear market técnico, com queda de 20%.
Importante dizer, portanto, que, quando falamos de desempenho de algum ativo ou índice específico, não devemos pensar também de forma linear, que todo mês vai subir ou cair 1%. Muito pelo contrário. O investidor que estava posicionado em Amazon durante o ano 2000 viu sua posição cair 82% em meio à bolha pontocom. De lá para cá (considerando o desempenho de 2000), a companhia apresentou um retorno de mais que o dobro do S&P 500.
Ou seja, o investidor que auferiu ganhos anuais médios de quase 17% em dólar por mais de duas décadas passou por momentos de tensão, dor de barriga e teve muito sangue frio para aguentar a tormenta dos anos 2000 (e das demais crises).
Uma forma inteligente de neutralizar o mau humor do curto prazo e construir um portfólio vencedor em prazos mais alongados é manter a prática de fazer aportes regulares. Ao fazer isso, o investidor sofre menos em eventuais drawdowns e tende a não cair na tentação de resgatar nos momentos ruins.
Forte abraço,
Fernando Ferrer