A quebra de bancos gringos desperta saudades de quando você estava preocupado com os discursos inflamados de Lula e com o risco fiscal brasileiro?
Infelizmente, é assim que funciona: não há um minuto de folga.
Quando os problemas de antes parecem prestes a serem digeridos, os problemas de depois tocam a campainha.
Conforme dizia Ben Graham, o mercado de fato é uma “voting machine” no curto prazo e uma “weighing machine” no longo prazo.
Durante o tempo todo, porém, seja curto ou longo prazo, o mercado é uma máquina de resolver (ou não) problemas.
Não há um só dia dos meus 18 anos de carreira como financista que eu me lembre de ter passado sem problema algum em destaque no terminal Bloomberg.
O lado ruim dessa história é que as soluções necessárias para resolver satisfatoriamente as questões em pauta são sempre complexas, incertas e demoradas.
O lado bom, prêmio de consolação, é que os problemas graves podem ser curiosamente resolvidos pela introdução de problemas gravíssimos.
Nada melhor do que a ameaça de uma quebradeira global para evitar heterodoxias por aqui. Na hora do aperto, o pragmatismo pede mais Haddad e menos Gleisi, e o velho Lula sabe fazer esse tipo de leitura.
Nenhuma outra ocorrência seria tão capaz de virar rapidamente o rumo dos juros, no Brasil e no mundo, quanto a perspectiva de uma crise financeira global.
Quando eu penso nisso, lembro das armadilhas do conflation – que é a arte de abrigar (co-fundir ou confundir) duas variáveis distintas embaixo de um mesmo guarda-chuva.
Por exemplo: se o chuveiro é esquecido ligado, aumentam as chances de você encontrar uma pequena inundação no banheiro ao chegar em casa depois de um longo expediente.
Esse tipo de associação lógica é perfeitamente válido para muitas relações básicas de causalidade, sobretudo no que tange às ciências naturais.
No entanto, dentro do mundo financeiro, o ato de pular rapidamente para conclusões “‘óbvias” é perigosíssimo.
Ou, nas palavras de Buffett, me dê um pedaço do futuro e uma linha de crédito que eu te dou uma história de falência.
O que seu eu-passado diria sobre o desempenho do Ibovespa em um dia no qual o CDS do Credit Suisse flerta com a fronteira de default?
Se não fosse commodities, a Bolsa brasileira teria subido bem hoje, comemorando mais uma queda do DI futuro.
As coisas fáceis de se prever não valem nada.