Day One

Ninguém sabe, mas tudo bem

“O grande destaque de 2022 tem sido a performance do real frente ao dólar […]”.

Por Enzo Pacheco, CFA

30 mar 2022, 11:14

Caro investidor,

O grande destaque de 2022 tem sido a performance do real frente ao dólar.

Com a alta de ontem, a moeda tupiniquim apresenta uma valorização de mais de 17% nos três primeiros meses do ano, o maior ganho dentre as 31 principais moedas mundiais, segundo a Bloomberg.

E, inevitavelmente, as pessoas me fazem a pergunta de US$ 1 milhão (ou R$ 4,7 milhões): aonde vai parar a divisa americana?

Infelizmente, a minha bola de cristal quebrou após afirmar que a Itália venceria tranquilamente a Macedônia do Norte e disputaria com Portugal uma vaga para a Copa do Mundo do Catar — um baque para todos com raízes italianas “intorno al mondo”, como este mero escriba…

Brincadeiras à parte, aqueles que têm interesse no assunto já devem ter se deparado com a afirmação de que o câmbio foi inventado para humilhar os economistas, dada a complexidade dos fatores que envolvem o valor de uma moeda.

Tanto que esses dias me deparei com a manchete de que o Credit Suisse indicava a possibilidade de novas desvalorizações do dólar, com seus modelos indicando que a moeda poderia ficar entre R$ 4,10 e R$ 4,85.

Não que os valores estejam errados, até porque eu não teria a capacidade de verificá-los, pois não sou economista.

Apenas pontuo que mesmo profissionais que gastaram horas e horas de estudos no curso de Economia enfrentam dificuldades para prever o caminho do câmbio. Tanto que a visão da instituição é de que a moeda americana deva ficar perto dos R$ 5,00 pelos próximos meses.

Mas assim como o mecanismo de “overshooting” — ou seja, uma valorização ou desvalorização acima do esperado levando em conta os fundamentos observados na economia — aconteceu no auge da pandemia, quando o dólar saiu de perto dos R$ 4,00 para quase R$ 6,00, não me espantaria ver um movimento parecido agora favorável ao real.

Até porque as circunstâncias atuais apontam para essa valorização da moeda brasileira: além da alta das commodities nos mercados internacionais (o que favorece exportadores desses produtos como o Brasil), temos taxas de juros reais muito acima do observado nas economias desenvolvidas e o valuation atrativo da Bolsa local comparada com seus pares como China e Índia, entre outras.

“Enzo, então é melhor esperar para aproveitar um valor mais favorável do dólar para investir lá fora?”

E aí eu venho com a melhor resposta possível: depende.

Caso você já esteja em níveis mais adiantados do que a maioria dos investidores brasileiros e tenha uma parcela dos seus recursos em dólar, é saudável verificar qual percentual de seu patrimônio está sendo impactado por essa queda nas posições em moeda forte e ver o quanto isso está te incomodando. Se você não consegue parar de pensar nesse assunto, talvez seja melhor reduzir um pouco sua exposição aos mercados internacionais.

Por outro lado, grande parte dos investidores não tem nada investido em ativos internacionais. Dessa forma, aproveitar a promoção de quase 20% na divisa americana pode ser um bom início para começar a investir lá fora — ainda que em parcelas menores do que o estipulado inicialmente, levando em consideração a possibilidade de novas desvalorizações do dólar.

Onde o dólar vai parar ninguém sabe com exatidão. Mas se você não tem nenhuma parcela do seu patrimônio em dólar, acho que agora pode ser um bom momento para começar a alocar parte do seu capital em moeda forte.

Um abraço,
Enzo Pacheco

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Administrador pela Universidade Federal do Espírito Santo com pós-graduação em Operador de Mercado Financeiro pela FIA, Enzo Pacheco atua desde 2017 com análise de investimentos nos mercados internacionais. Hoje, é responsável pela série MoneyBets, voltada para os investidores brasileiros que querem expandir as fronteiras dos seus portfólios. Possui certificações CFA e CNPI.

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