Você conhece pessoas que endereçam doações em prol de boas causas?
Imagino que sim, espero que sim.
Quantas dessas pessoas o fazem sob condição de anonimato?
A segunda pergunta desafia a lógica, pois o anonimato ofusca a contabilidade precisa.
Mesmo assim, os diagramas de Venn nos permitem concluir que o número extraído da segunda pergunta é necessariamente menor que o número da primeira, graças às relações de pertencimento.
Indo além, e já apelando à ilação, seria razoável supor que a maioria dos doadores opta por revelar suas contribuições.
Embora toda doação seja naturalmente bem-vinda, a doação anônima poderia ser entendida como um exemplo máximo de postura ética.
Em tese, o indivíduo que doa sob anonimato não está sinalizando a troca de capital financeiro por capital social, nem parece preocupado com o quanto seus pares congratularão sua doação.
Na prática, porém, talvez sua reputação seja mais valorizada que a dos doadores explícitos, já que os processos de contribuição nunca são 100% anônimos.
Não raro, o “nome anônimo” chega aos ouvidos dos organizadores, dos beneficiários e do seleto clube dos demais nomes anônimos, alcançando um reconhecimento inigualável — generosidade em sua forma mais pura, sem demandar contrapartida em fama.
Falo disso, primeiro, porque quero convidar os ex-alunos de universidades públicas que nos leem a considerar — explícita ou veladamente — o projeto SempreFEA.
Trata-se de um endowment independente que visa tornar mais sustentável um pedacinho do ensino público no Brasil.
Talvez sua formação nada tenha a ver com a FEA-USP, mas o gesto significa bem mais do que uma contribuição específica.
Ao fomentarmos o consagrado modelo do endowment no Brasil, estaremos propagando uma cultura de retribuição ao que a sociedade nos proporcionou, com infinitas ramificações positivas.
Tão simples quanto isso.
Ah, sim, falo do assunto também porque quero apresentar um outro lado do brilhante Day One que o Felipe publicou na segunda-feira.
Se o gestor celebridade (ou não) pode extrair vantagens impróprias da menção a um ativo em lives ou redes sociais, talvez seja o caso de prestarmos ainda mais atenção nos gestores anônimos.
Quais são aqueles investidores profissionais que escolhem atuar com discrição?
Assim como os doadores anônimos, acabamos conhecendo e reconhecendo-os tacitamente, no mais alto nível de respeito e admiração.