Day One

Nosso louco amor

“Ao vislumbrar problemas ocultos em sua forma explícita, somos habilitados a evitá-los ou digeri-los (aqui, não temos pretensão de buscar soluções)”

Por Rodolfo Amstalden

23 ago 2023, 16:47 - atualizado em 23 ago 2023, 16:47

Agosto, o mês do cachorro louco, o período do ano em que as cadelas mais entram no cio e em que os cães mais ficam agressivos, graças às disputas pelo acasalamento.

Também aquele mês em que Getúlio Vargas e JK morreram em circunstâncias trágicas, embora incomparáveis com as milhares de mortes causadas pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki, entre 6 e 9 de agosto de 1945.

O mês em que acumulamos 13 quedas consecutivas de Ibovespa, o mês em que sonhamos com os 125 mil pontos e acordamos beijando os 114 mil pontos.

Mas nem tudo é condenável.

O champagne foi inventado em agosto, assim como o sanduíche. Martin Luther King Jr improvisou em público seu famoso discurso “I have a dream”. Sean Connery e Whitney Houston vieram ao mundo.

Agosto só termina quando acaba; poderemos decretar seu verdadeiro teor de loucura daqui a exatos oito dias. A loucura é capaz de produzir resultados macabros, mas é também capaz de criar vida de um jeito que a sanidade nunca conseguiu.

Alguns problemas importantes vieram à tona para o mercado em agosto, e algo me diz que eles não nos deixarão tão rápido. Isso não é necessariamente ruim. Ao vislumbrar problemas ocultos em sua forma explícita, somos habilitados a evitá-los ou digeri-los (aqui, não temos pretensão de buscar soluções).

Eis alguns deles:

  • Embora Fernando Haddad seja um ministro da Fazenda muito melhor que o esperado, algum grau de colisão com o Centrão se faz inevitável até o fim do mandato. Não há como manter uma postura 100% diplomática e, ao mesmo tempo, cumprir as metas que o cargo de Fazendeiro impõe.
  • Em médio prazo, China tem mais downside do que upside. Sem poder recorrer às doses regulares de estímulo + endividamento + formação bruta de capital fixo dos últimos 30 anos, e com um forte preconceito do Governo contra o impulso ao consumo, a tentação de adotar medidas heterodoxas aumenta; a ebulição social também.
  • Podemos ficar aqui discutindo filosoficamente se a curva de juros americana obedece a ajustes técnicos ou a uma nova ordem geopolítica global, e podemos também debater se o Treasury 10y ficará mais perto de 5% ou mais perto de 3% quando “tudo isso acabar”. Mas parece já meio claro que a próxima década será um período de brigas muito mais parelhas entre a renda fixa e a renda variável do que foi a década passada.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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