“É o gosto que eu sinto. Medo no fundo da minha garganta. Sabe, a maioria das pessoas tenta ficar longe do medo, tenta tirá-lo de suas vidas assim que podem. Eu? Eu o cultivo. Tento reconhecê-lo e usá-lo. Foi assim que eu sobrevivi quando estava crescendo e ainda vivo assim, escutando com atenção o meu medo.”
Bobby Axelrod
“Tu teres medo é um sinal… Vou dizer com calma para que ver se tu percebes… A minha opção pelo futebol é estar o melhor possível fisicamente e psicologicamente pelo medo de falhar.”
Cristiano Ronaldo
Sempre foi pelo medo. E é até hoje.
Na infância, talvez um medo de nunca conseguir a aprovação do meu pai, misturado à insegurança de, por algum erro ou alguma incompetência, deixar de pertencer ou ser admirado pelo grupo.
Quase com 40 anos, com pinta de 50, ele ainda é um companheiro fiel. Não muito agradável, mas sempre presente. Um medo de não provar para mim mesmo que ainda sou capaz de fazer alguma coisa minimamente razoável ou de, diante de algum cisne negro, deixar escapar as pequenas conquistas angariadas ao longo do tempo.
Sempre estive nas relações dos melhores alunos da sala. Não por possuir algum tipo de inteligência especial, mas, sim, porque me dedicava mais do que os outros. Chegava nas provas sempre dominando todo o conteúdo, muitas vezes já sabendo, com uma sensibilidade treinada, o que seria cobrado naquele exame exatamente. A disciplina e o esforço derivavam do medo, da possível vergonha de ter de mostrar aos meus pais aquela nota vermelha, de talvez ter de encarar o próprio travesseiro me chamando de fracassado ou de ver meus amigos caçoando da minha falta de inteligência.
Meu amigo e professor Paulo Gala fez um vídeo em que me apontava como o aluno mais brilhante de sua história na FGV. Está lá disponível no YouTube. Agradeci ao querido Paulo, mas, na verdade, não era brilhantismo. Longe disso. Bem longe. Era só medo, materializado em uma dedicação e em horas de estudos que os demais não se dispunham a entregar.
Como meu pai era muito intuitivo e “street smart” (perdoe pelo anglicismo, mas a tradução seria pior, você há de concordar) e acabou falindo, ficou clara para mim a necessidade de um apoio acadêmico robusto, já que essa me parecia sua única deficiência. Tinha medo da compulsão à repetição. O filho condenado a repetir os erros do pai.
De alguma maneira, esse medo é resultado do instinto de sobrevivência, em especial na modernidade. Não foi Hegel que disse que a inauguração da era Moderna se dá pela substituição do ter como um grande valor pelo reconhecimento dos pares? Como insiste Nassim Taleb, a única definição possível de racionalidade se liga à sobrevivência. A ideia original da racionalidade biológica está em Gerd Gigerenzer, mas Taleb a apresenta muito bem.
Naquela clássica entrevista de Luis Stuhlberger à revista piauí, tem um trecho assim: “Acho que meu negócio dá certo porque sou o gestor mais covarde que existe. Morro de medo de perder o dinheiro dos outros. E o meu também. (…) O único instinto que uso é o da sobrevivência, que está no meu DNA judaico”.
Serve para o investidor ou para o empreendedor, como Andrew Grove nos trouxe no “Only the Paranoid Survive: How to Identify and Exploit the Crisis Points that Challenge Every Business”.
A educação, seja ela formal/acadêmica ou aquela da rua, sempre me pareceu fonte de segurança, uma espécie de caixa de ferramentas ampla para usarmos diante de situações futuras, adversidades inesperadas que se colocam diante da gente e sobre as quais podemos aplicar um referencial teórico ou um reconhecimento de padrões.
Em meus muitos anos de psicanálise, meu eterno terapeuta Cláudio Waks percebeu minha preocupação com a perseguição interna do virtuosismo. Ele me provocava com frequência: “Qual o prêmio da virtude?”. A resposta certa é: a própria virtude.
Como ele era discípulo de Sándor Ferenczi e de sua elasticidade da prática psicanalítica, talvez me permita estender o exercício para: o maior prêmio da educação é a própria educação. Hoje, com as necessidades mais imediatas realizadas e menos propenso ao utilitarismo das coisas, vejo valor na educação por si mesma.
Objetivamente, porém, ela tem desdobramentos fortuitos. No mínimo, a educação formal é um bom seguro ou uma opção interessante, porque lhe abre novas portas potenciais.
A esta altura, percebi como há uma lacuna importante na formação de Finanças e Investimentos, sobretudo no Brasil. Quando Caio Mesquita fez seu MBA em Columbia, teve uma aula com Warren Buffett. Quando eu viajei para Nova York para estudar, fui aluno do próprio Taleb e de outros gestores com profundidade acadêmica, sim, mas também com ampla bagagem prática.
No nosso país, infelizmente, há uma clivagem clara entre os acadêmicos e os praticantes. Mesmo nos cursos de mestrado ou doutorado em Economia & Finanças, não existem professores com viés prático. Quem está dando aula sobre investimento muitas vezes nem investe o próprio dinheiro. Os maiores ganhadores de dinheiro estão no mercado, não na academia.
Então, criamos o nosso MBA, para preencher este vácuo. Hoje, gostaria de convidá-lo para fazer parte disto. Eu não sei qual a sua motivação. Pode ser o próprio medo, ou a ganância. O desejo de ganhar um aumento, mudar de carreira, começar uma profissão, empreendedor ou tocar a própria grana. Cuidar do patrimônio familiar ou, simplesmente, encontrar valor na educação em si. Existe também a possibilidade de vir trabalhar aqui conosco, com uma vaga aberta com esse intuito.
Seja lá qual for a sua patologia (no sentido de “pathos”, paixão), ela pode ser preenchida se você tiver algum interesse genuíno em investimentos. Aqui, você vai aprender com gente de verdade, empiricamente. Porque essa é a nossa essência. Seja muito bem-vindo.
P.S.: Encerro hoje com a sugestão de leitura da coluna de Luiz Felipe Pondé na Folha. Para mim, foi o melhor texto publicado sobre o caso Monark. No Puro Malte da última sexta-feira, eu havia expressado opinião semelhante. Fica o convite aos ouvintes. Para haver tolerância, precisamos ser intolerantes com os intolerantes, como nos ensinou Karl Popper. Mesmo um grande liberal e defensor da liberdade precisa reconhecer que não há valor supremo, pois as supremacias não lidam bem com o liberalismo. É curioso como a arte de investir também é assim. Não há valor absoluto que se sobreponha aos demais. Você não gosta de estatais, mas pode haver um momento, um contexto e um valuation que o atraia para elas. Talvez você seja apaixonado por tecnologia, mas haverá de reconhecer que o momento é delicado para elas diante dos juros subindo no mundo. A conjuntura atual pede mais valor e menos tech, mais Caloi e menos Monark.