Desde meados de junho, temos visto movimentos importantes nos mercados internacionais.
Por um lado, os principais índices globais valorizaram mais de 15%. Por exemplo, o S&P 500, que estava em “bear market” (quedas de mais de 20% das máximas), agora desvaloriza “apenas” 10% do pico atingido no começo do ano.
E uma boa parte desses ganhos recentes estão ligados à percepção dos investidores de que o Banco Central americano não deverá ser tão restritivo na condução da política monetária. As apostas para a próxima reunião, que ocorrerá somente em setembro, agora apontam uma maior probabilidade de 50 pontos-base, ante 75 pontos dos dois últimos encontros.
O recuo nos preços das commodities potencializaram essa visão. Os preços do barril de petróleo, tanto do tipo WTI como do Brent, caem cerca de 30% das máximas – de modo que o índice de inflação nos Estados Unidos surpreendeu positivamente o mercado, com o forte recuo dos preços de energia em julho.
Mas dificilmente podemos afirmar que os problemas ligados às commodities, principalmente as energéticas, ficaram para trás.
Uma das principais alternativas ao petróleo, o gás natural, vem fazendo novas máximas dia sim, outro também. No mercado europeu, os preços já são mais de 10 vezes superiores ao observado no início de 2021, diante das ameaças de corte no fornecimento por parte da Rússia para os países da região.
Já nos Estados Unidos, que produz metade do gás que consome, a commodity dobrou de preço em um ano – em parte pelo aumento da importação pela Europa para compensar a redução do gás russo.
Diante da possibilidade de um inverno turbulento no hemisfério norte, outras fontes de energia acabam sendo necessárias. Ainda assim, o risco de racionamento persiste, sobretudo no Velho Continente.
A decisão mais simples tem sido a reativação de usinas termelétricas movidas a carvão. Isso, porém, atrasaria o atingimento das metas de redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa definidas pelos países desenvolvidos.
Só que nem tudo está perdido.
Uma alternativa que tem ganhado força é o uso da energia nuclear, que é responsável por aproximadamente 10% da energia produzida ao redor do mundo.
Obviamente, quando esse assunto é trazido à tona, não demora muito para que alguém lembre dos riscos ligados a essa fonte de energia, com acontecimentos marcantes como os acidentes em Chernobyl e Fukushima sendo os principais motivos para aversão de seu uso.
Mas o que pouca gente sabe é que cerca de 70% da energia produzida na França é proveniente da energia nuclear. Ainda que a meta estabelecida pelo país seja de reduzir esse percentual para a casa dos 50%, o país continua sendo um dos principais destinos para turistas de diversas nacionalidades.
Ou seja, estruturado da maneira correta, é possível ter a energia nuclear como parte de uma matriz energética mais completa.
Tanto que o projeto de lei assinado ontem pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden (Inflation Reduction Act) direciona US$ 30 bilhões em créditos tributários para dar suporte às usinas nucleares existentes no país – sem contar os recursos destinados pelo projeto de infraestrutura assinado no ano passado.
De acordo com a Secretaria de Energia dos EUA Jennifer Granholm, a energia nuclear será crucial para que o país consiga realizar a transição energética para fontes menos poluidoras do meio ambiente.
Além disso, a Alemanha decidiu postergar o fechamento das suas três últimas usinas nucleares, antes programado para encerrar as atividades no final deste ano. Mesmo que represente uma parte pequena da produção energética do país (6%), a utilização dessa fonte de energia permite que o gás natural que seria utilizado para esse fim tenha outra destinação.
Até porque o desespero parece bater na porta dos alemães a cada dia que passa: segundo a Bloomberg, a pesquisa pelo termo “brennholz” (lenha) no Google aumentou consideravelmente nas últimas semanas.
Recentemente, a Nuclear Regulatory Commission – responsável pela definição de diretrizes ligadas a energia nuclear nos Estados Unidos – deu um novo gás para o setor aprovando o design de um reator modular de pequeno porte desenvolvido pela NuScale, o que significa que o modelo está de acordo com os requisitos de segurança definidos pelo órgão.
Obviamente as ações da companhia responderam positivamente a essa notícia, tendo valorizado quase 50% no dia do anúncio. Com um valor de mercado acima dos US$ 3 bilhões, para uma empresa com uma receita irrisória, não entraria no momento, mas definitivamente deixaria no radar para potenciais oportunidades no futuro.
Para aqueles que querem apostar no segmento, entendo que seja interessante diversificar uma pequena parcela do capital (não mais do que 5% do portfólio). Uma forma simples seria por meio de ETFs (sendo o Global X Uranium o principal deles) ou pelo fundo Vitreo Urânio.
Um abraço.