Day One

O elogio que nem minha mãe me fez

“Sabemos que os piores drawdowns suprimem as características intrínsecas de cada ativo de risco, empurrando todas as […]”.

Por Rodolfo Amstalden

25 ago 2022, 10:18 - atualizado em 25 ago 2022, 10:18

O elogio
Fonte: Free Pik

Sabemos que os piores drawdowns suprimem as características intrínsecas de cada ativo de risco, empurrando todas as correlações para um mesmo lugar.

No pânico, a torcida vende vol e compra aquilo que é líquido e certo. Os múltiplos são nivelados por baixo, e o mercado perde a capacidade de diferenciar por fatores.

Embora sempre momentâneo sob perspectiva histórica, esse estado de opacidade pode durar dias, semanas ou meses. E mesmo enquanto se dissipa, o faz por meio de nuances que confundem o investidor.

Tome por base a conjuntura atual.

Se, por um lado, não temos mais o caso de correlação estritamente unitária, por outro, não retomamos ainda a salubridade dos infinitos plurais.

No momento, pregões de pouca liquidez e muita aventura bagunçam completamente as correlações esperadas, despertando narrativas malucas.

Empresas com mais de R$ 20 bilhões de market cap caem e sobem 10% por dia, como se fosse natural acordar, de repente, metamorfoseado em barata ou cavalo branco.

Por mais intangíveis que sejam os ativos das empresas que lideram a Nova Economia (whatever that means), é improvável que eles flutuem 10% ao dia ao sabor dos fundamentos.

Nem mesmo as taxas de desconto da perpetuidade seriam capazes de provocar tamanha oscilação.

O que está acontecendo, então?

Motivos técnicos não devem ser subestimados, especialmente se testarem a movediça fronteira entre o short e o short squeeze.

Por mais brilhante que seja o Sergio Rial – e ele de fato é –, nem sua mãe lhe faria um elogio maior que o dos squeezers.

Mas, enfim, é assim que funcionam os mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks.

Ganha-se e perde-se muito no intraday, mas – ironicamente – nada acontece no dia após dia.

Aquela turma da faculdade que cheirava cocaína para se animar, e depois fumava maconha para se acalmar, continua no mesmo emprego até hoje, tentando driblar o tédio com alguma série do Netflix.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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