Sabemos que os piores drawdowns suprimem as características intrínsecas de cada ativo de risco, empurrando todas as correlações para um mesmo lugar.
No pânico, a torcida vende vol e compra aquilo que é líquido e certo. Os múltiplos são nivelados por baixo, e o mercado perde a capacidade de diferenciar por fatores.
Embora sempre momentâneo sob perspectiva histórica, esse estado de opacidade pode durar dias, semanas ou meses. E mesmo enquanto se dissipa, o faz por meio de nuances que confundem o investidor.
Tome por base a conjuntura atual.
Se, por um lado, não temos mais o caso de correlação estritamente unitária, por outro, não retomamos ainda a salubridade dos infinitos plurais.
No momento, pregões de pouca liquidez e muita aventura bagunçam completamente as correlações esperadas, despertando narrativas malucas.
Empresas com mais de R$ 20 bilhões de market cap caem e sobem 10% por dia, como se fosse natural acordar, de repente, metamorfoseado em barata ou cavalo branco.
Por mais intangíveis que sejam os ativos das empresas que lideram a Nova Economia (whatever that means), é improvável que eles flutuem 10% ao dia ao sabor dos fundamentos.
Nem mesmo as taxas de desconto da perpetuidade seriam capazes de provocar tamanha oscilação.
O que está acontecendo, então?
Motivos técnicos não devem ser subestimados, especialmente se testarem a movediça fronteira entre o short e o short squeeze.
Por mais brilhante que seja o Sergio Rial – e ele de fato é –, nem sua mãe lhe faria um elogio maior que o dos squeezers.
Mas, enfim, é assim que funcionam os mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks.
Ganha-se e perde-se muito no intraday, mas – ironicamente – nada acontece no dia após dia.
Aquela turma da faculdade que cheirava cocaína para se animar, e depois fumava maconha para se acalmar, continua no mesmo emprego até hoje, tentando driblar o tédio com alguma série do Netflix.