Day One

O império contra-ataca

Até 2023, estávamos nos acostumando a pensar a política brasileira dentro de um arcabouço pendular, perfeitamente compatível com a dinâmica de polarização.

Por Rodolfo Amstalden

09 out 2024, 16:11 - atualizado em 09 out 2024, 16:11

Imagem do globo terrestre, com destaque para porção territorial brasileira que está dourada. Há moedas e notas de dinheiro brasileiro cercando a terra em alusão à política do mundo política monetária fed banco central bc reunião mercados

Até 2023, estávamos nos acostumando a pensar a política (e a economia) brasileira dentro de um arcabouço pendular, perfeitamente compatível com a dinâmica de polarização.

Por vezes, tendendo à extrema direita, para depois tomar impulso rumo à extrema esquerda, e assim por diante, até o final dos tempos.

Mas todo moto contínuo acaba por enfrentar a resistência das forças de atrito.

Se até mesmo os modelos das ciências exatas vão para a oficina diante de novos dados disponíveis, o que dizer das ciências sociais?

Estas eleições municipais de 2024 mostram que o contexto de polarização no Brasil, ainda que deixe heranças perenes, pode ser menos óbvio do que se imaginava.

Vide a força impressionante do centro, representado por PSD, MDB e União Brasil, e que sai como o grande vencedor das prefeituras, tanto em densidade quanto em capilaridade.

Assim como ocorreu com a renda fixa, o centro político brasileiro foi declarado morto antes de parar de respirar, e ressurge agora com vivacidade.

Pelo menos dois aspectos possibilitaram o enterro prematuro de um corpo vivo.

Primeiro, o fato de que o próprio centro foi pego de surpresa pela polarização, e precisou de bastante tempo para se adaptar às novas forças em jogo.

O tempo político não corre na mesma velocidade que o tempo do calendário; na política, nada acontece por anos, e tudo acontece em questão de semanas.

De repente, o PSD se tornou o principal vetor partidário, capaz de transitar entre os extremos e angariar múltiplas lideranças.

Gilberto Kassab, que não ganharia sequer uma eleição de síndico, é hoje o “expoente low profile” da política brasileira – historicamente mais simpática aos oxímoros que aos extremos distantes.

Sem surpresas, foi o próprio Kassab quem melhor identificou o segundo aspecto por trás do enterro prematuro: a confusão entre pessoa e espectro político.

Afinal, o insucesso se devia ao jóquei ou ao cavalo?

Desatento, o centro foi perdendo suas figuras enérgicas, talentosas e inspiradoras, e viu-se incapaz de reposição.

Feito o diagnóstico, um dos principais méritos do novo centro foi o de revolucionar seu departamento de RH, buscando ativamente a formação e atração de políticos de destaque, inclusive em outros partidos.

É um trabalho discreto e demorado, mas começou a dar frutos.

Resta saber se esses frutos estarão maduros para a colheita já em 2026, ou se dependerão de safras mais longevas.

Dúvidas desse tipo impõem uma lógica binária a quem deseja fazer dinheiro com Bolsa brasileira nos próximos 12 a 18 meses. 

Como consolo, pelo menos temos direito a considerar essa dúvida a partir de agora.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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