Gostaríamos de falar mais sobre Warren Buffett, temos muito a aprender aí.
Mas o problema é que ele foi cooptado pela nata do value investing.
Gente que usa suéter amarrado no ombro e beberica espumante enquanto cita frases célebres do “sábio de Omaha”, como se ele fosse um deus.
Então, eu pensei: “Putz, não é culpa dele, um sujeito não escolhe seus próprios fãs”.
E resolvi falar do Buffett hoje, mesmo correndo o risco de soar groupie.
No último encontro anual da Berkshire, sábado passado, ele respondeu a uma dúvida clássica e bastante frequente entre investidores:
Como o sucesso histórico da Berkshire pode ser explicado em termos da capacidade de fazer timing de mercado?
Timing de mercado — ou seja, comprar exatamente na hora em que está barato, para depois vender exatamente na hora em que está caro.
Embora existam ocasiões históricas em que os movimentos de compra e venda da Berkshire pareçam sintonizados com vales/picos ótimos para entradas/saídas, Buffett atribui isso mais à sorte do que a uma antevisão deliberada.
De fato, não há deliberação alguma nesse sentido, pois o timing de mercado nunca foi um objetivo para Warren Buffett. Pode até figurar anedoticamente como uma consequência a posteriori de movimentos felizes, mas nunca foi uma causa a ser perseguida a priori.
O mais famoso investidor do mundo não acredita em timing.
No que ele acredita então?
“Somos razoavelmente bons em descobrir quando estamos recebendo o suficiente pelo dinheiro que pagamos.”
Na terminologia das finanças comportamentais, diríamos que Warren Buffett não é um maximizer, mas sim um satisficer.
Em vez de gastar 10 mil horas rodando o shopping à procura do tênis mais legal do Universo, o satisficer para de procurar assim que encontra um tênis legal.
Seus algoritmos de investimento se baseiam em estratégias cujo payoff esperado seja bom o bastante, and that’s all folks!
Ironicamente, essas pessoas de ambições medidas — os “good-enough investors” — são aquelas com maiores chances de se tornarem verdadeiramente ricas.
No mundo financeiro, quem mira a lua frequentemente dá um tiro no pé.
Já quem mira o telhado geralmente acerta o telhado e, às vezes, dá a sorte de acertar a lua também.