Day One

O investidor mais legal do Universo

“Gostaríamos de falar mais sobre Warren Buffett, temos muito a aprender aí. Mas o problema é que ele foi cooptado pela nata do value investing […]”.

Por Rodolfo Amstalden

05 maio 2022, 10:40

Gostaríamos de falar mais sobre Warren Buffett, temos muito a aprender aí.

Mas o problema é que ele foi cooptado pela nata do value investing.

Gente que usa suéter amarrado no ombro e beberica espumante enquanto cita frases célebres do “sábio de Omaha”, como se ele fosse um deus.

Então, eu pensei: “Putz, não é culpa dele, um sujeito não escolhe seus próprios fãs”.

E resolvi falar do Buffett hoje, mesmo correndo o risco de soar groupie.

No último encontro anual da Berkshire, sábado passado, ele respondeu a uma dúvida clássica e bastante frequente entre investidores:

Como o sucesso histórico da Berkshire pode ser explicado em termos da capacidade de fazer timing de mercado?

Timing de mercado — ou seja, comprar exatamente na hora em que está barato, para depois vender exatamente na hora em que está caro.

Embora existam ocasiões históricas em que os movimentos de compra e venda da Berkshire pareçam sintonizados com vales/picos ótimos para entradas/saídas, Buffett atribui isso mais à sorte do que a uma antevisão deliberada.

De fato, não há deliberação alguma nesse sentido, pois o timing de mercado nunca foi um objetivo para Warren Buffett. Pode até figurar anedoticamente como uma consequência a posteriori de movimentos felizes, mas nunca foi uma causa a ser perseguida a priori.

O mais famoso investidor do mundo não acredita em timing.

No que ele acredita então?

“Somos razoavelmente bons em descobrir quando estamos recebendo o suficiente pelo dinheiro que pagamos.”

Na terminologia das finanças comportamentais, diríamos que Warren Buffett não é um maximizer, mas sim um satisficer.

Em vez de gastar 10 mil horas rodando o shopping à procura do tênis mais legal do Universo, o satisficer para de procurar assim que encontra um tênis legal.

Seus algoritmos de investimento se baseiam em estratégias cujo payoff esperado seja bom o bastante, and that’s all folks!

Ironicamente, essas pessoas de ambições medidas — os “good-enough investors” — são aquelas com maiores chances de se tornarem verdadeiramente ricas.

No mundo financeiro, quem mira a lua frequentemente dá um tiro no pé.

Já quem mira o telhado geralmente acerta o telhado e, às vezes, dá a sorte de acertar a lua também.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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