Dois dias atrás, um amigo meu caiu em uma fraude financeira pelo celular, e perdeu com isso aproximadamente R$ 3.000.
Sabemos que isso acontece rotineiramente, as estatísticas são dolorosamente amplas, mas é pior quando acontece de perto, e você não pôde fazer nada para evitar.
Quando eu conversei com ele, no fim da tarde, o PIX já havia sido sacramentado e evaporado, sem possibilidade de estorno.
Além do prejuízo monetário, a vítima fica se achando uma idiota completa. No entanto, quando o processo fraudulento é analisado em contexto, notamos uma cuidadosa engenharia social, sustentada por laços crescentes de confiança e desenvolvimentos tecnológicos.
No caso em questão, ele foi atraído a um grupo de Whatsapp por conta de um anúncio no Instagram, feito por um pretenso Professor de Finanças, que se dedicaria a ensinar como investir em ações globais.
O grupo era povoado com dezenas de pessoas engajadas, e alimentado continuamente com conteúdos que pareciam bastante técnicos, sobretudo ao julgamento de um leigo no assunto.
Até o momento, não se sabia que vários dos “colegas de classe” do WhatsApp eram atores ensaiados para fazer aquele cenário parecer sério e socialmente aceitável, quebrando eventuais barreiras individuais de ceticismo e resistência.
Em tese, pessoas normais já estavam investindo e obtendo pequenos retornos, confirmados por meio de prints no grupo. Então, por que não experimentar?
Havia uma forma específica e objetiva de participar: um app, disponível para download na Google Play Store.
Embora certos detalhes de layout do app pudessem sugerir desvios em relação a padrões regulatórios, um usuário leigo dificilmente daria conta de tais nuances.
Assim, incentivada pela funcionalidade do app, a vítima se viu em posição confortável para fazer seu primeiro aporte, de R$ 100.
Depois de poucos dias, o investimento saltou para R$ 150, e o próprio Professor sugeriu que seus alunos resgatassem o dinheiro, botando os lucros no bolso.
Naturalmente, esse retorno certo e fácil elevou o nível de confiança para o próximo movimento, que viria a ser maior.
O Professor congratulou os alunos pelo sucesso no primeiro passo, e informou que eles já se mostravam preparados para investir em uma estratégia mais ambiciosa: pré-IPOs nos EUA.
Para tanto, bastaria um aporte de R$ 3.000 na plataforma – valor que poderia se multiplicar por algo entre 10x e 100x, assim que o IPO fosse consumado.
Meu amigo não teve dúvidas, sequestrou uma parte da sua reserva de liquidez e efetivou o novo aporte.
Nunca mais viu o dinheiro, e nem verá.