“Não me arrependo do que fui outrora porque ainda o sou.” (Alberto Caeiro)
Dentre tantos heterônimos, qual é o verdadeiro Fernando Pessoa?
Mais de cem teses de doutorado foram gastas tentando responder a essa pergunta inútil.
Sua primeira criação autoral surgiu espontaneamente aos seis anos, por meio de Chevalier de Pas — com ele, Fernando iniciou uma intensa troca de cartas ficcionais.
Mas o ápice, dizem, veio apenas em Alberto Caeiro, um simples e humilde guardador de rebanhos que acumulava toda a sabedoria do mundo.
O meu preferido é Álvaro de Campos, cansado dos semideuses que encontra por aí, eternamente em busca de gente demasiado humana.
Talvez há de encontrar essa gente no Planalto Central.
Não sei se o presidente que vemos agora é o Lula I, o Lula II ou o Lula III.
Mercado está tentando desvendar, e provavelmente só conseguirá behind the curve, ao término dos quatro anos de mandato.
Quando o mercado finalmente souber quem é o Lula, sua opção terá expirado, virado pó.
Em meio ao incerto triunvirato, porém, um denominador continua em voga: Lula continua gostando de dinheiro. Ou, mais especificamente, das boas coisas que o dinheiro compra.
A julgar pelos novos móveis do Palácio da Alvorada, escolhidos sem licitação, em soma total de R$ 380 mil – incluindo uma cama de R$ 42 mil, um buffet de R$ 62 mil e um sofá de R$ 65 mil – , para além do orçamento de 90% dos faria limers.
E a julgar pela gravata nova da Zegna, de muito bom gosto.
Não é pecado algum gostar de dinheiro, nem mesmo para um presidente da República.
Na verdade, considero uma ótima notícia, pois a tão criticada “lógica do mercado” está de alguma forma ali imbuída. Ao fim e ao cabo, Lula seria humano como Álvaro de Campos, humano como todos nós.
Ao que consta nos autos da história, Lula sempre teve um relacionamento pessoal saudável com o Capitalismo.
As coisas que uma pessoa faz com o dinheiro valem muito mais do que as coisas que uma pessoa diz sobre dinheiro.