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Quando o patinho feio é a melhor aposta

“O value investing raiz prega que devemos comprar empresas baratas, e ponto. Um modus operandi clássico dessa escola é partir da lista de companhias classificadas pelo […]”.

Por Larissa Quaresma, CFA

15 fev 2022, 10:31 - atualizado em 15 fev 2022, 10:38

O value investing raiz prega que devemos comprar empresas baratas, e ponto. Um modus operandi clássico dessa escola é partir da lista de companhias classificadas pelo seu múltiplo de preço sobre lucro, ordenadas do menor para o maior. Aquelas que estiverem no topo da lista se tornam candidatas promissoras para a composição de um portfólio.

É verdade que, nos últimos anos, o value investing foi superado, em termos de performance, pelo growth. Anos de juros reais baixos (ou negativos) nas principais economias do mundo geraram um ambiente propício para as teses de crescimento ganharem destaque. Agora, com a inversão dos juros, o panorama mudou, e o value voltou a ser atrativo.

A cesta dos grandes bancos, relegada durante o período de dinheiro barato, voltou à cena. O que até pouco tempo atrás era negócio “em declínio” pela ameaça constante das fintechs passou a se tornar atrativo. Usando aquele modus operandi clássico do value investing, essa categoria aparece no topo da lista, com o primeiro lugar sendo ocupado justamente pelo patinho feio: o Banco do Brasil.

Nos anos de dinheiro fácil, as pechinchas foram frequentemente taxadas, sem grande escrutínio, de “value traps”, ou armadilhas de valor. Um aforismo popular dessa teoria é que “se está barato, vai continuar barato”. Mas a temporada de resultados do 4T21 veio para mostrar que as barganhas podem ser mesmo bons investimentos.

Entre os grandes bancos, o que levou a melhor nos resultados foi justamente ele: o patinho feio. No início do mês, o Santander Brasil divulgou um resultado morno. As ações sofreram. Depois, veio o Bradesco, que mostrou números de fato ruins e uma projeção ainda pior para 2022, fazendo toda a cesta de bancos apanhar nas cotações. Então, foi a vez do Itaú, que surpreendeu as expectativas e puxou para cima todos os seus pares. Finalmente, veio ele: o Banco do Brasil, que divulgou ontem um resultado que provavelmente surpreendeu ainda mais do que o do Itaú.

A carteira de crédito do patinho feio cresceu 18% na comparação anual, com destaque para os empréstimos à pessoa física (+15%) e ao agronegócio de varejo (+27%). A margem financeira bruta, que representa a receita de juros líquida do custo de captação do banco, cresceu 5% contra o 4T20. O resultado da tesouraria, que também compõe a margem financeira bruta e que foi ruim para todos os outros grandes bancos, cresceu 69%.

Também indo na contramão dos pares, o índice de inadimplência de 90 dias, que representa a razão das operações vencidas há mais de 90 dias e o saldo da carteira de crédito, diminuiu tanto na comparação trimestral quanto na anual. Apesar do forte crescimento da carteira de crédito pessoa física, mais arriscada, essa inadimplência caiu 0,25 ponto percentual contra o 4T20, totalizando 1,75%. Com isso, a margem financeira líquida, que desconta as despesas de inadimplência, subiu 22% na comparação anual. Assim, o spread do banco ajustado pelo risco apresentou melhora de 0,3 ponto percentual, atingindo 2,6% ao ano.

As receitas de prestação de serviços também tiveram um bom desempenho, com crescimento anual de 7% e destaque para as receitas de administração de fundos, que cresceram 12%. Aqui, o Banco do Brasil é beneficiado pela predominância da renda fixa entre seus produtos de fundo, beneficiados pela corrida dos investidores para capturar nossa agora gorda taxa Selic.

As despesas administrativas se mantiveram sob controle, com um crescimento anual de 1,4%, bem abaixo do IPCA acumulado no ano, de 10,1%. Com isso o lucro líquido ajustado do Banco do Brasil foi de R$ 3,7 bilhões no trimestre, 67% acima do valor do 4T20. O retorno sobre o patrimônio líquido do ano de 2021 foi de 15%, melhora anual de 4 pontos percentuais.

Ainda, o Banco do Brasil guiou o mercado para um cenário positivo em 2022. O banco espera que a carteira de crédito cresça entre 8% e 12%, com subida dos spreads e a margem financeira bruta crescendo de 11% a 15%. Além disso, as despesas com inadimplência devem cair entre 13% e 16%, ao contrário de seus pares, que guiaram para uma inadimplência mais alta em 2022.

Sabemos que essa é uma tese de investimentos controversa por ser um ano de eleições. Entretanto, nos atenhamos aos números, que devem ser positivos para o ano. Quem sabe, em 2022, o patinho feio não vai levar a melhor outra vez.

Um abraço,
Larissa

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.

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