Day One

Quando você vai dar o braço a torcer?

“Elon Musk prefere pagar US$ 1 bilhão em multa do que seguir adiante com a compra do Twitter […]”.

Por Larissa Quaresma, CFA

12 jul 2022, 10:59 - atualizado em 12 jul 2022, 10:59

Pensativa em relação ao futuro
Fonte: Free Pik

Elon Musk prefere pagar US$ 1 bilhão em multa do que seguir adiante com a compra do Twitter.
 
Tudo começou em março deste ano, quando o bilionário passou a comprar, na surdina, ações da empresa. Quando atingiu uma participação relevante, Musk precisou fazer uma oferta formal para comprar mais. E assim o fez: sua proposta avaliou o Twitter em US$ 44 bilhões. Esse valor estava 30% abaixo da máxima histórica e, portanto, parecia uma barganha.
 
Feita a oferta, o investidor começou sua diligência, em que levantou uma série de informações antes de fechar o negócio. Entretanto, foi aí que algo o desagradou. O Twitter disse a Musk que 5% de seus usuários são falsos ou criados por robôs. Mas o investidor acredita que essa fatia é maior, em torno de 20%. Quando solicitou informações adicionais, Musk ficou sem resposta.
 
O tempo passou.
 
A ação caiu mais 23%.
 
Após 2 meses de silêncio, o bilionário retirou sua proposta. Ele não quis pagar para ver. Na verdade, preferiu pagar US$ 1 bilhão em multa contratual para não precisar ver mais.
 
Mais 11% de queda.
 
O que parecia uma barganha não era, na realidade, tão barato assim.
 

 
Musk foi corajoso diante do que percebeu como um erro de investimento. Desistir da compra significaria não só pagar US$ 1 bi em multa, mas admitir um erro publicamente, assim como correr o risco de perder a credibilidade da sua palavra. Tratava-se de um custo afundado grande, que mesmo assim ele topou pagar.
 
Se ele errou ou acertou, só o tempo vai dizer. O grande valor desse episódio está, na verdade, nas suas lições para nós, investidores. Aqui vão elas:
 
1 – Não entre em um negócio sem ter uma porta de saída. Mesmo depois da multa, Elon Musk continuará muito bilionário, obrigado. É importante saber qual custo afundado você consegue suportar. Se aquela ação ou ativo pode te gerar uma perda proibitiva, ou, ainda, não tem liquidez suficiente para absorver a venda da sua posição, entre com uma exposição menor. Jamais encare o risco de perder o suficiente para te deixar em ruínas.
 
2 – Tome decisões de investimento informadas. O verdadeiro investidor investiga a fundo o que está avaliando, com a missão de descobrir a verdade – portanto, não deve acreditar em tudo que vê ou ouve. Aliás, essa pesquisa é a maior parte do nosso trabalho na Carteira Empiricus, um portfólio de ativos que acreditamos ter o poder de proteger e multiplicar seu patrimônio.
 
3 – O futuro deve balizar suas decisões de investimento, e não o passado. O fato de Musk ter topado pagar US$ 1 bilhão em multa significa que enxergava uma perda ainda maior, caso seguisse com o negócio. Ele não se deixou levar pelo dilema do custo afundado. No universo das ações, uma queda de 30% pode ser sucedida por mais outra de 30%. A “barganha” pode se transformar em um pesadelo. A pergunta é qual decisão te deixará mais rico no futuro, partindo de onde está agora. Lo que pasó, pasó.
 
4 – Sua riqueza é inversamente proporcional ao seu ego. Admitir publicamente um erro bilionário, ainda mais sendo famoso no mundo inteiro, não deve ser fácil. Ainda assim, Elon priorizou seu bolso em detrimento de se provar certo. É possível ganhar muito dinheiro mesmo errando, desde que reconheça os erros antes que eles causem estrago demais. Se um dos homens mais ricos do mundo erra, quem somos nós para querer ter 100% de aproveitamento nas nossas decisões de investimento?
 

“Por três métodos podemos aprender a sabedoria: primeiro, por reflexão, que é a mais nobre; Segundo, por imitação, que é mais fácil; e terceiro, pela experiência, que é a mais amarga.”

Confúcio

 
Um abraço.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.