Entre as precisas aspas atribuídas a John Pierpoint Morgan, a que mais aparece para mim na pesquisa do Google tem a ver com reputação.
“The first thing is character… before money or anything else; money cannot buy it.”
JP Morgan entendia o bom caráter como virtude suprema, essencial para qualquer pai de família ou homem de negócios.
Sob essa leitura, nem todo o dinheiro do mundo seria capaz de comprar um único grama de caráter.
Ainda assim, em situações cotidianas, é inevitável depararmos com contextos nos quais dinheiro e valores morais podem ser intercambiáveis.
Lembro-me da prova final de Economia Matemática II, em que o Professor Kanczuk propunha uma única e simples pergunta: quanto vale sua vida?
Eu que, como sempre, tinha me preparado porcamente para uma prova pesada de matemática, repleta de funções pitorescas de U(x), fiquei me perguntando se havia entrado na sala errada.
Seria aquele um teste de Filosofia?
No fim das contas, era um pouco dos dois. O aluno começava filosofando e terminava fazendo um cálculo atuarial lastreado em seguro de vida.
Depois da pergunta desconcertante, tinha um enunciado para isso, e era preciso prestar atenção em cada detalhe desse enunciado, em busca de pistas preciosas para levantar as premissas e seguir com as operações matemáticas.
Ao que me consta, para minha tristeza nostálgica, Kanzczuk se aposentou da nobre labuta professoral.
Se ainda estivesse por lá, talvez atualizasse o enunciado para algo como:
Partindo de uma dotação inicial de R$ 180 bilhões, qual seria uma função utilidade que lhe faria disposto a gastar R$ 20 bilhões para preservar sua reputação?
A priori, a resolução do exercício parece mais fácil, com vários tipos de funções satisfazendo a condição.
No entanto, um bom matemático poderia provar também que existem infinitas funções que não a satisfazem, o que sugere um perigo.
De repente, um aluno incauto de MBA perde o foco, e começa a divagar nessa floresta infinita de funções. O tempo vai passando, passando, e ele não consegue encontrar a resposta.
Talvez esse aluno se distraia e caia na tentação de pensar: “bem, qual é o mínimo que eu preciso gastar com isso?”.
Talvez ele entenda que sua reputação está eternizada depois de sobreviver à choppada dos bixos sem vomitar, não é preciso preservar o que não sofre ameaça; logo, nem há o que calcular.
E então o estrago estará feito, nota zero na prova do Kanczuk, e nem adianta imaginar que ele vai dar mole na REC, porque não vai, não é do feitio dele.