“Era só o que me faltava: além de o Felipe não escrever mais às quartas, coloca gente louca no lugar…”
Calma. Prometo que ao final deste Day One a sugestão do título vai fazer sentido e mostrarei que ando com minha saúde mental em dia (apesar de o Palmeiras colocá-la em teste recorrentemente nas últimas semanas, mas isso é papo para outra hora).
Aqueles que nos acompanham há mais tempo sabem que a especialista nesse assunto é a Larissa Quaresma, que toca o Oportunidades ESG, buscando as melhores alternativas de investimento nessa seara em ativos brasileiros — se você assina alguma série da Empiricus, é só acessar o material na parte “Bonus Package” da sua Área do Assinante.
Mas aqui eu quero pontuar o que considero ser o “paradoxo do ESG”: na ânsia de querer reduzir o impacto ambiental de certas atividades, o investimento em ativos que não passariam muito pelos crivos ambiental (E), social (S) e de governança (G) pode se tornar uma boa oportunidade.
Esse tema, que já vem sendo abordado há alguns anos, ganhou notoriedade com o episódio do fundo ativista Engine No. 1 contra a gigante petrolífera Exxon Mobil no começo do ano.
Até 2013, a multinacional americana era a empresa com maior valor de mercado do mundo, com uma capitalização de mais de US$ 416 bilhões, e maior posição do índice Dow Jones.
Hoje, suas ações caem quase 40% das máximas do início da década e não fazem parte do índice mais antigo do mercado americano — sendo trocada pela Salesforce, uma das queridinhas da “nova economia”.
Ainda assim, estamos falando de uma companhia com mais de US$ 260 bilhões em valor de mercado. Já a Engine No. 1 conta com menos de US$ 300 milhões em ativos sob gestão e, naquele momento, uma posição de 0,02% nas ações da empresa. Uma verdadeira batalha entre Davi e Golias.
Resultado: o fundo conseguiu três assentos no Conselho da Exxon. Christopher James, fundador da Engine No. 1, conseguiu o apoio de pesos-pesados do mundo dos investimentos como BlackRock, Vanguard e State Street (três das principais gestoras do mundo) para aprovar a entrada dos membros e tentar colocar em prática as mudanças que considera serem necessárias para a companhia continuar existindo no longo prazo.
Isso, obviamente, trouxe mais atenção para outras gigantes do setor, como Royal Dutch Shell e Chevron, que sofreram reveses nos últimos meses e obrigaram seus executivos a reverem os planos estratégicos para combater as mudanças climáticas.
Com base nos dados da Bloomberg, considerando as cem maiores empresas produtoras de petróleo e gás (que representam 92% do valor de mercado total das companhias nesse segmento), já é possível ver uma redução nos investimentos dos últimos 12 meses da ordem de 30% quando comparado com o reportado em 2020 — mesma magnitude quando voltamos cinco anos no tempo.
Não me entenda mal. Sou totalmente a favor de que essas companhias revejam seus modelos de negócios para que o mundo não sofra as consequências do consumo massivo de combustíveis fósseis.
Só que tentar virar a chave de maneira brusca, ainda que pelos mais nobres motivos, pode acabar afetando de maneira relevante a economia global. Diversos bancos já pontuam que o barril de petróleo na casa dos US$ 100 é altamente provável caso retornemos a algo próximo da normalidade pré-pandemia. Alguns falam, inclusive, em algo como US$ 130.
Pode até ser que o petróleo não chegue a esses níveis. Seja pelos impactos inflacionários (que afetariam o consumo global) ou até mesmo pelo fato de a Opep decidir aumentar a sua produção (já que muitas das economias dos países-membros possuem uma grande dependência da commodity). Mas também não acho que o cenário atual indique grandes chances de uma forte desvalorização no preço do petróleo.
Analisando a história recente, quedas bruscas no preço do barril foram observadas somente em momentos de graves crises globais (como na crise de 2008 ou quando foi para o campo negativo por causa do coronavírus) ou em circunstâncias diferentes das atuais (como na expansão da exploração de gás de xisto, em meados da década passada).
Neste caso, as grandes companhias europeias do setor, como a Total (NYSE: TTE) e a BP (B3: B1PP34; NYSE: BP), me parecem mais bem posicionadas para aqueles que desejam ter uma aposta tática no setor (temos, inclusive, posições ligadas à gigante inglesa nas nossas carteiras internacionais).
Além de um baixo custo de extração, essas empresas já estão há mais tempo do que seus pares americanos buscando maneiras de reduzir a dependência de seus negócios dos combustíveis fósseis, tendo investido nos últimos anos em diversos projetos de energia renovável.
Essa antecipação impactou negativamente as ações dessas empresas em um primeiro momento, já que muitos investidores questionaram se as novas empreitadas teriam o mesmo potencial de retorno que os negócios antigos.
Só que, negociadas por múltiplos quase 40% abaixo das americanas, a margem de segurança nesses papéis é maior. Mesmo um retorno para a casa dos US$ 60 no preço do barril permitiria que essas companhias continuassem gerando caixa, que poderá ser alocado nessas novas frentes. Enquanto isso, as americanas ainda discutem maneiras de ajustar suas operações à nova realidade.
Se é para investir em petróleo hoje para não depender da commodity amanhã, minha paz de espírito está preservada.
Um abraço,
Enzo Pacheco