Todo ato de investir é um exercício de confiança.
Primeiro, o investidor concede o benefício da dúvida.
Depois, se estiver certo ou estiver com sorte, colhe os ganhos de sua decisão original.
Aquilo que o suitability chama de “investidor agressivo” eu chamo de “investidor disposto a confiar”.
Sujeito pode quebrar a cara? É óbvio que sim. Pode esperar lucros e amargar prejuízos? Sem dúvida! Mas isso não faz dele um otário. Ao contrário, aliás. Só evoluímos como espécie devido a pessoas que depositaram, sistematicamente, confiança a priori, em si e nos outros.
Por que, então, existem tantos investidores ressabiados, que não suportam uma mínima chance de serem passados para trás?
Isso tem a ver com a assimetria embutida no mecanismo básico de retroalimentação ao fazermos (ou não) apostas cotidianas.
Vamos supor que você foi em frente, reuniu a coragem necessária e depositou sua valiosa confiança em algo ou alguém. Nesse caso, a retroalimentação entra em jogo com força total.
Ou seja, se por acaso seu nível de confiança era demasiado, você provavelmente ficará sabendo disso, rápida e dolorosamente.
A casa nos Jardins que lhe custou apenas R$ 8 mil por metro quadrado havia sido construída logo acima de um antigo cemitério indígena.
O Graycinza 2000 comprado no camelô da Paulista não só falhou em escurecer seu cabelo como o transformou em uma palha grisalha.
Duas horas e meia de congestionamento depois da brilhante ideia de abandonar os conselhos do idiota do Waze (quem é esse robô pra achar que pode me ensinar a dirigir?).
Por outro lado, se você decidir nunca confiar em alguém, jamais terá frustrações na vida, e jamais saberá se estava certo ou não. Os céticos e desconfiados não recebem retroalimentação.
Uma namorada o traiu. Dali em diante, você nunca mais vai namorar ninguém na vida?
Uma ação do seu portfólio caiu. Nunca mais vai comprar ações?
Ganham em relacionamento e dinheiro as pessoas que, em geral, supõem o melhor, e concedem o benefício da dúvida. Os grandes ganhos exigem pequenos e médios prejuízos.