Day One

Só acerta pênalti quem erra

Todo ato de investir é um exercício de confiança.

Por Rodolfo Amstalden

30 dez 2021, 10:23

Todo ato de investir é um exercício de confiança.

Primeiro, o investidor concede o benefício da dúvida.

Depois, se estiver certo ou estiver com sorte, colhe os ganhos de sua decisão original.

Aquilo que o suitability chama de “investidor agressivo” eu chamo de “investidor disposto a confiar”.

Sujeito pode quebrar a cara? É óbvio que sim. Pode esperar lucros e amargar prejuízos? Sem dúvida! Mas isso não faz dele um otário. Ao contrário, aliás. Só evoluímos como espécie devido a pessoas que depositaram, sistematicamente, confiança a priori, em si e nos outros.

Por que, então, existem tantos investidores ressabiados, que não suportam uma mínima chance de serem passados para trás?

Isso tem a ver com a assimetria embutida no mecanismo básico de retroalimentação ao fazermos (ou não) apostas cotidianas.

Vamos supor que você foi em frente, reuniu a coragem necessária e depositou sua valiosa confiança em algo ou alguém. Nesse caso, a retroalimentação entra em jogo com força total.

Ou seja, se por acaso seu nível de confiança era demasiado, você provavelmente ficará sabendo disso, rápida e dolorosamente.

A casa nos Jardins que lhe custou apenas R$ 8 mil por metro quadrado havia sido construída logo acima de um antigo cemitério indígena.

O Graycinza 2000 comprado no camelô da Paulista não só falhou em escurecer seu cabelo como o transformou em uma palha grisalha.

Duas horas e meia de congestionamento depois da brilhante ideia de abandonar os conselhos do idiota do Waze (quem é esse robô pra achar que pode me ensinar a dirigir?).

Por outro lado, se você decidir nunca confiar em alguém, jamais terá frustrações na vida, e jamais saberá se estava certo ou não. Os céticos e desconfiados não recebem retroalimentação.

Uma namorada o traiu. Dali em diante, você nunca mais vai namorar ninguém na vida?

Uma ação do seu portfólio caiu. Nunca mais vai comprar ações?

Ganham em relacionamento e dinheiro as pessoas que, em geral, supõem o melhor, e concedem o benefício da dúvida. Os grandes ganhos exigem pequenos e médios prejuízos.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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