Day One

Sobre o investimento em ações oníricas

Não sei o quanto você já refletiu sobre os seus sonhos. 

Por Rodolfo Amstalden

08 abr 2021, 01:05

Não sei o quanto você já refletiu sobre os seus sonhos. 

Não digo sonhos do tipo “quero evoluir na minha carreira de modo a alcançar um posto de C-Level” ou “desejo uma nova BMW M3 Competition Track”, que são falsos sonhos.

Refiro-me a descobrir-se vestido apenas com meias escocesas no centro do pátio da escola ou abrir uma lata de molho de tomate e encontrar um chip de computador lá dentro.

Quem nunca?

A primeira coisa que me vem à mente quando eu me lembro dos meus sonhos malucos é: 

“Cara, como é que minha cabeça pode produzir narrativas que eu sou incapaz de compreender?”.

Quantas facetas existem dentro de cada um de nós?

Quantos idiomas desconhecidos somos capazes de falar? Qual é, verdadeiramente, a nossa língua-mãe?

Tenho certeza de que você é dominado por essas mesmas indagações enquanto pratica sua corrida matinal, fuma um cigarro ou toma uma xícara de café.

Sonhos são mediadores entre a ordem e o caos. Não podemos compreendê-los literalmente, pois eles se encontram sobre a fronteira entre esses dois mundos.

Aliás, a mesma fronteira cuidadosamente habitada pelas ações oníricas.

Ações oníricas também se situam entre a ordem e o caos. Elas não proporcionam a paz de espírito das ações que vivem inteiramente na ordem, e não dependem de turnarounds, como as ações que vivem mergulhadas no caos.

É o caso, por exemplo, de Eletrobras.

ELET distribui um provento decente (5% de yield), gera caixa, setor regulado, mas sua porrada mesmo depende de um evento onírico: a privatização.

Antes uma questão de “SE”, agora a privatização da Eletrobras virou uma questão de “QUANDO”, o que faz muito mais sentido.

Quando vai acontecer?

É dificílimo adivinhar se vamos ou não vamos sonhar nesta noite específica de quinta-feira.

Muito mais fácil seria apostar que sonharemos o sonho mais lindo em alguma das muitas noites daqui até dezembro.

A maioria dos investidores de Bolsa prefere fazer contas em vez de sonhar. 

Antes da prova de matemática, eu tenho essa mania de sonhar acordado.

Então toca o sinal do fim do recreio, não há mais tempo. 

Tiro o chip de dentro e uso a lata para cobrir minha genitália, enquanto caminho em direção à sala de aula.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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