Day One

Superação positiva: um long em Itaú com short em XP

“Estamos diante de um longo inverno, também no sentido metafórico. […]”.

Por Rodolfo Amstalden

19 maio 2022, 11:51 - atualizado em 20 maio 2022, 21:37

“Por superação positiva, entende-se que
a resolução da controvérsia faz emergir sua verdade;
e que esta verdade, entendida como o saldo positivo da controvérsia
e aceita como tal por todos os participantes,
incorpora-se ao estudo atual da ciência”

– Pérsio Arida

Frio de um dígito em boa parte do Brasil.

Estamos diante de um longo inverno, também no sentido metafórico.

O aperto monetário no mundo — mais intenso e mais extenso do que o mercado espera — modifica radicalmente as relações de troca entre risco e retorno.

Não é verdade, porém, que estamos simplesmente voltando ao passado.

Algumas características são semelhantes aos episódios históricos de alta inflação e altas taxas de juros; outras coisas mudaram.

Combustíveis caros, embora ainda incômodos, defrontam-se pela primeira vez com a possibilidade de home office, neutralizando parte dos gastos com transporte.

Alternativas de renda fixa estão bem mais arrojadas do que as do fim de 2016, quando a Selic enamorou-se pelo mesmo patamar atual.

E os grandes bancos, antes pegos de surpresa pelo financial deepening, agora voltam a jogar em casa, diante da torcida dos spreads.

É sobre eles que eu quero falar: os grandes bancos.

Entendo que você deva ter ao menos um grande banco em seu book de ações. O meu preferido, hoje, é Itaú.

Para quem quiser casar as duas pontas, um short em XP parece adequadamente pareado com o long em Itaú.

Ainda que a tese pareça meramente conjuntural, trata-se de uma conjuntura que pode transformar dias em meses, e meses em anos.

Indo além, arrisco-me a dizer que há algo mais que conjuntural escondido aí.

Primeiro, porque as baixas temperaturas de um inverno rigoroso podem alterar a estrutura físico-química de um elemento — no caso, o elemento XP —, de modo que ela não volte mais a ser como era antes (histerese).

Se for o caso, não se trata apenas de ajustar parâmetros, mas sim de mudar a própria narrativa. Como diz o Damodaran moderno, every valuation tells a different story, and every story tells a different valuation.

Segundo, porque os bancos apanharam e aprenderam. Aprenderam muito. A surpresa do primeiro financial deepening não será repetida quando os juros voltarem a cair.

Várias das ferramentas usadas para disruptar o sistema foram absorvidas humildemente pelo próprio status quo, tornando-o mais robusto.

Embora os MBAs gostem de frisar casos extremos de Kodak ou Blackberry, as grandes destruições criadoras ocorrem de maneira endógena, com o mainstream incorporando as fronteiras do conhecimento.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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