O mundo já passou por alguns superciclos de valorização de commodities. Na segunda revolução industrial, no final do século 19, a forte expansão populacional e o aumento de renda causaram uma forte expansão na demanda por matérias-primas de todo tipo: alimentos, energéticas, metais. Então, nos anos 2000, o mundo viu algo parecido acontecer de novo. A diferença era que, no início do século 21, o aumento da demanda veio principalmente da China, com suas taxas de crescimento anuais na casa dos dois dígitos e a população enriquecendo. Agora, no início dos anos 2020, estaríamos vivendo algo similar?
Desde que passou a ser peça relevante na economia mundial, a China responde por boa parte da demanda da grande maioria das commodities. Pense no minério de ferro, na celulose, no aço e no carvão, entre outras. Com isso, China desacelerando significa commodities para baixo; China crescendo mais rápido significa commodities para cima.
Durante a pandemia, a China adotou uma estratégia de combate contrária à maioria dos países desenvolvidos. À medida que atravessávamos novas ondas da Covid-19, Europa, EUA e, por vezes, até o Brasil relutavam em declarar novos lockdowns, enquanto a China foi implacável em imediatamente colocar em prática a sua política de tolerância zero. Na frente econômica, os bancos centrais dos países desenvolvidos (e do Brasil também) se viram forçados a reduzir suas taxas de juros para estimular a economia em um período delicado para a atividade, enquanto a China manteve certa estabilidade nos seus juros. O resultado disso foi EUA, Europa e Brasil crescendo além do esperado em 2021, enquanto a China se expandiu dentro das expectativas.
Agora, com a gradual retomada das atividades, colhemos uma herança deixada pelas políticas estimulantes e pelas cadeias produtivas mundiais ainda fragmentadas: a inflação. Para controlar os preços, então, o movimento de subida de juros, que aconteceu com certa antecipação no Brasil, agora atinge os países desenvolvidos. O movimento, agora, é de subida de juros aqui, nos EUA e na União Europeia. Na contramão de todos esses países, a China sinalizou que vai diminuir os juros, adotando uma política monetária expansionista, depois de ter segurado a onda durante a pandemia.
Olhando à frente, o dinheiro barato na China estimula investimentos industriais, consumo e, por conseguinte, a demanda por commodities, já que, como sabemos, o gigante asiático concentra boa parte da demanda por elas. Nesse cenário, os países em desenvolvimento, com suas economias baseadas na exportação de matéria-prima, levam a melhor.
O Brasil, que é uma “economia atrasada”, baseada em produtos “de baixo valor agregado”, é na verdade base para boa parte das cadeias industriais globais. Apesar de termos à frente um cenário desafiador para o consumo doméstico aqui no Brasil, o que dita o tom nos setores de commodities é a demanda internacional, com especial destaque para a chinesa. É ela que dita o preço do minério de ferro, do aço, dos alimentos, da celulose e do petróleo.
Além da estimulante política monetária chinesa, a potencial guerra entre a Rússia e a Ucrânia também favorece os preços das matérias-primas. Isso porque a Rússia fornece boa parte do gás que serve de fonte de energia para o resto da Europa, um produto especialmente demandado agora no inverno europeu. Com a iminência da guerra, o país comandado por Vladimir Putin usa o fornecimento de gás como moeda de troca na batalha de sanções econômicas que os países vizinhos ameaçam impor à Rússia em caso de conflito. O preço do gás disparou.
Como não poderia ser diferente, também os metais preciosos, refúgios universais em situações de incerteza, estão cada dia mais altos desde que começou a ameaça de guerra. Ouro e prata, até pouco tempo relegados pela ameaça de subida dos juros, agora se tornaram oportunas posições nas carteiras de investimento.
Temos uma miríade de fatores que favorecem as commodities. Por sorte, vivemos em um país cuja economia é baseada nelas. Aproveite as oportunidades.
Um abraço,
Larissa