Assim que cheguei para a entrevista, logo fui recebido por um francês em um dia ruim que disparou uma sequência de perguntas em um inglês que só ele entendia.
Seu “sotaque” poderia ser definido como franco-carioca-texano, efeito colateral de uma rotina de idas e vindas entre Houston e Rio, prestando consultoria estratégica para executivos de petróleo e gás em dois dos hubs mais importantes para o setor no continente.
O ano era 2013, o Brasil se preparava para receber a Copa do Mundo no ano seguinte, o Rio, as Olimpíadas em 2016, e o mercado de trabalho na área de petróleo estava definitivamente aquecido – aquela estátua do Cristo na capa da Economist só começaria a cair meses depois.
Mas, do mesmo modo que é impossível acertar o ponto mais alto de uma ação para vendê-la, simplesmente não se sabia à época que aquele seria o ponto de inflexão da indústria de petróleo e gás, duplamente impactado nos anos seguintes por eventos associados à Petrobras: primeiro, com sua política de represamentos de preços destruindo seu resultado, e, em seguida, com a revelação dos escândalos de corrupção do “petrolão” na operação Lava Jato.
Portanto, ali estava um futuro breve consultor, iludido pelo descaso no setor.
“How green is Tesla?”, ele perguntou. Falando pausadamente, essa foi a última frase em inglês antes de ele se calar pela próxima meia hora.
Na época, já conhecia a fama das entrevistas de consultoria estratégica de deixar o candidato falar sozinho o máximo de tempo possível após uma pergunta vaga, como uma sessão de psicanálise freudiana.
Eu não fazia a menor ideia por onde começar a responder a pergunta acima. Aliás, mal conhecia a Tesla, que havia acabado de fechar seu primeiro trimestre no positivo e valia US$ 20 bilhões, 30 vezes menos do que hoje.
Em uma folha de papel, comecei a estruturar aquele que seria o caminho mais lógico. Se eu estimasse o potencial de redução de gás carbônico emitido ao comparar um Tesla Model S com um carro médio americano, talvez o agradasse e avançássemos para uma próxima fase.
Depois de meia hora apresentando premissas sobre a população americana e sua taxa de crescimento, a quantidade de carros por famílias, os tipos de veículos e de combustíveis mais populares e os cálculos que levariam ao benefício financeiro de trocar seu carro por um Tesla, eu havia falhado miseravelmente.
Aparentemente, só havia uma resposta certa para o francês: a publicada pelo analista de empresas Nathan Weiss neste artigo, argumentando que o modelo elétrico emitiria 25% mais gás carbônico por milha do que um Jeep Grand Cherokee.
Os motivos eram principalmente os elevados níveis de emissão de gás carbônico tanto na produção da energia necessária para o carro andar quanto na produção da própria bateria que serve de “motor” para o Tesla. A resposta, portanto, dependeria da matriz energética do país analisado.
Além disso, também eram premissas importantes a autonomia do carro, a eficiência da bateria e a perda de energia da bateria quando o carro estivesse parado – o que, por sua vez, dependia do clima.
A tese demandava o que Howard Marks define como pensamento de segundo nível, o nível de aprofundamento necessário para uma análise completa, que se diferencie de todos os outros que têm acesso aos mesmos dados. Há certo paralelismo com o sistema 2 de Daniel Kahneman ou com a importância de saber que existem coisas que não sabemos, sempre citado por Ray Dalio.
Ao investir, especialmente em fundos em que as informações são menos disponíveis do que as ações, corremos constantemente o risco de nos deixar levar por heurísticas rasas e pensamentos de primeiro nível.
Da narrativa de um fundo global comparado a benchmarks locais ao fundo de maior retorno dos últimos 12 meses, quando todos ganharam dinheiro. De uma estratégia “quase” igual à original do gestor de hedge fund renomado à volatilidade como medida oficial de risco. Do fundo de ações que cobra performance sobre o CDI à distinção primária entre fundos long biased, por exemplo. As armadilhas e escolhas fáceis são inúmeras.
Na série Os Melhores Fundos de Investimento, priorizamos o segundo nível de análise. Sem atalhos, procuramos pela consistência de retornos em vez do retorno acumulado, valorizamos o histórico do gestor em vez do fundo, preferimos a estrutura societária participativa ao longo do tempo em vez da concentração e a qualidade (e não apenas a quantidade) do risco tomado. E, claro, pensamos sempre em portfólio e jamais em produto.
Nos últimos meses, temos desenvolvido uma metodologia proprietária de análise de níveis mais profundos de fundos, customizada para cada classe de ativos: renda fixa, multimercados, renda variável e fundos internacionais. Combinando consistência de retornos, uma definição mais correta de risco que foca nas perdas e nas assimetrias e o potencial de diversificação em um portfólio, acreditamos no potencial de ganhos consistentes no longo prazo.
É justamente daí que surgiu, em fevereiro, nossa carteira de multimercados mais arrojada, tendo ganhado forma no FoF Melhores Fundos Retorno Absoluto sob gestão dos nossos parceiros da Vitreo.
A carteira é formada por versões sofisticadas e extremamente restritas de alguns dos gestores que mais gostamos, após longa diligência e meses de conversas.
Na sua criação, já tínhamos a noção de que ele seria pequeno em patrimônio, para poucos, dada a exclusividade de cada fundo que compõe a carteira – 9 dos 10 passam a maior parte do ano fechados.
Confesso que não esperava que isso fosse acontecer em dois meses após seu lançamento.
Portanto, hoje é o último dia e, às 16 horas, o fundo fechará para captação por tempo indeterminado. Se você é investidor qualificado e se encaixa no perfil de risco, deixo meu convite para conhecer onde está nosso nível mais profundo de análise.