O bull market inebriante que começou em 2016 foi duramente interrompido. O desempenho do Ibovespa desde 2016 até junho de 2021, quando atingiu sua máxima histórica, foi de 193% acumulados, ou 22% anuais. Então, desde os 127 mil pontos em meados do ano passado, o índice já cai mais de 20%, o que caracteriza um bear market na definição convencional.
A derrocada começou com a proposta de reforma tributária, que veio em um formato desgostoso para os mercados e, daí para a frente, foi ladeira abaixo. Medidas eleitoreiras, preocupação com as contas públicas, inflação, juro alto… e o leitor já conhece a sequência que veio depois disso.
Em um bull market, gestores de ações ganham dinheiro e enxurradas de investidores comuns chegam à Bolsa, também ganhando o seu. É muito fácil ser um gênio nessas condições. Quando os vetores se invertem, os investidores correm para a renda fixa (ou para as colinas?), e os gestores de ativos de risco, de repente, parecem todos incompetentes.
E é aí que chegamos à minha reflexão de hoje: risco.
O último quinquênio viu uma proliferação de produtos financeiros, muitos deles com grande exposição a risco, mais acessíveis a todo tipo de investidor. Ainda bem! A questão é que as manadas, quando o panorama vira, desinvestem nas baixas, somente para deixar de capturar a recuperação na volta.
Warren Buffett uma vez disse que as pessoas que não toleram ver suas ações perderem 50% do seu valor não deveriam possuí-las para começo de conversa. Os extremos do mercado financeiro produzem situações bizarras, como um investidor conservador fortemente alocado em ações, somente para arrancar os cabelos quando o bull vira bear market.
Cada ativo ou produto financeiro tem um perfil de risco peculiar e deve ser avaliado sob a perspectiva da sua tolerância à volatilidade através de altas e baixas. Sua estratégia de alocação deve ser um fio condutor estrutural, de forma a dar consistência à sua abordagem de investimento.
Isso porque, se você mudar a estratégia a todo tempo, perde os benefícios da sua própria alocação de lá atrás. Nas finanças, os ativos tendem a ser cíclicos, e o bear market de hoje virará, eventualmente, um bull, embora seja bem improvável que você acerte o timing disso com precisão.
O bear market atual está formando uma zona compradora de Bolsa, embora não saibamos por quanto tempo nem com qual intensidade – se você souber, convido-o a integrar o nosso time.
É comum que excelentes produtos financeiros caiam mais que o mercado em um momento baixista, para subirem mais em uma alta – ora, isso é esperado para fundos com forte alocação estrutural em Bolsa, como é o caso do Carteira Empiricus. Convido você, também, a observar a performance dos fundos de ações mais longevos do Brasil no ano que se passou. Se o gestor ficar desviando do seu mandato a todo tempo, ele próprio se trai, sabotando os benefícios de longo prazo da sua estratégia.
Agora que a maré baixou, aproveite para relembrar sua estratégia definida lá atrás e avaliar se ela é compatível com a receptividade do seu estômago ao risco. Investidores com alocação em Bolsa devem esperar situações como a atual. Na renda variável, a trajetória nunca é linear; na verdade, ela costuma ser cíclica.
É verdade que quem investe em Bolsa deve esperar retornos estruturais maiores do que quem não o faz. E, por estruturais, quero dizer os retornos observados em janelas de dez anos, no mínimo. Mas essa recompensa de longo prazo tem um preço: a volatilidade de curto.
Em mercados emergentes, como é o caso tupiniquim, esse preço tende a ser mais amargo ainda. Em Bolsas imaturas, “vol é mato”, mas, como não poderia ser diferente, os retornos estruturais esperados também são maiores – ou temos que jogar fora anos de história financeira global. As oportunidades de multiplicação de capital por aqui são mais intensas. É bom colocar em perspectiva o mercado em que você opera.
Não existe almoço grátis e, como quase tudo na vida, é preciso avaliar que preço você está disposto a pagar para colher determinados benefícios.
Um abraço,
Larissa