Quando o mercado sobe, comemoramos.
Quando o mercado cai, explicamos.
Tentamos explicar para os outros, mas – acima de tudo – tentamos explicar para nós mesmos.
Eu venho escrevendo relatórios de research há quase 15 anos, e ainda não aprendi uma lição simples: a de que não é possível alcançar consolo para os nossos lutos através da explicação.
Nos dias de pregão em queda, manifesta-se em mim um desejo desesperado de escrever sobre algum insight financeiro capaz de me trazer conforto face à impotência e à solidão.
Por meio de algumas poucas frases cuidadosamente escolhidas – pensava eu – haveria como encontrar certa dose de amparo. E então isso se tornaria um exercício estritamente intelectual, de deduzir tais frases, e imprimi-las na tela.
No entanto, uma vez começado o exercício, eu sempre acabo sucumbindo, me dando conta, após horas de teimosia, de que eu não conseguiria escrever nem mesmo uma linha sequer.
O Felipe fala em vocação. Não sei como funcionam as regras entre ele e a sua vocação analítica.
No meu caso, já percebi que minha vocação não demonstra qualquer interesse por mim; não está nem um pouco preocupada com aquilo que me aflige ou animada com aquilo que me alegra. Ela não é uma companheira de jornada.
Em meio aos mais impiedosos drawdowns, tudo o que me resta é engolir minha saliva e minhas lágrimas, enxugar o sangue que brota das minhas feridas e servir com obediência à minha vocação.
Servir com as parcas ideias que ela deseja que eu leve até os quatro leitores desta newsletter, sabendo ouvir e transcrever essas ideias de forma diligente.
Servir escrevendo coisas bonitas se eu estiver triste, ou coisas feias se eu estiver feliz.
Hoje, minha vocação diz para não escrever sobre o Copom, pois 25 bps não vão fazer diferença por aqui.
Também não posso escrever sobre banana republic, pois estaria copiando um belo insight do Stuhlberger.
Por fim, poderia escrever que nenhum dos clientes da Empiricus-Vitreo está feliz tendo conta nos bancões, mas seria uma mentira.
Contabilizamos quase meio milhão de clientes, algum deles há de estar feliz.
Eu mesmo estou feliz.