Day One

Uma mãe à procura de filhos qualificados

Todo esse conhecimento latente, aparentemente inútil, sobre o mercado de ações de repente deve se provar uma bela opcionalidade. 

Por Rodolfo Amstalden

04 nov 2024, 13:10

Direcional (DIRR3) apresenta boa prévia operacional do 1T23

Crédito: Pixabay

Os sintomas de escassez de mão de obra qualificada nos setores de construção civil e calçados também encontram eco na Faria Lima e no Leblon.

Este era para ser um momento no qual o topo da pirâmide de financistas, dos 50 aos 65 anos, deveria estar dando lugar à camada intermediária, dos 30 aos 50 anos. 

No entanto, essa camada intermediária se encontra esvaziada.

Semana após semana, ouço reclamações de empresários e RHs do setor financeiro de que está difícil contratar, o nível dos candidatos caiu muito, e boa parte do recrutamento de alto nível hoje se transformou em um jogo de rouba-monte.

Do ponto de vista sistêmico, isso ocorre sobretudo por fatores demográficos e pelo mercado de trabalho aquecido, rodando próximo ao pleno emprego (whatever that means).

Em paralelo, porém, fatores idiossincráticos associados aos juros elevados e ao financial shallowing atuaram também para comprometer a formação de bons financistas.

Com o último ciclo local de bull market findo em 2008, caímos em um gap “eterno” de 16 anos sem estímulos convincentes para atrair talentos, principalmente em renda variável.

Ou seja, temos uma geração inteira de novos financistas que nunca viu uma grande porrada de Kit Brasil, e que, portanto, trata isso com indiferença, ou mesmo como algo ridículo, ultrapassado.  

Parafraseando a sabedoria de rua de um desses empresários com quem conversei, “os novos executivos da Faria Lima hoje são muito mais corporate guys ou vendedores de produtos do que financistas por vocação”.

No que surge a dúvida: o que vai acontecer nas vitrines de capital humano se engatarmos a “mãe de todos os ralis” a partir das eleições presidenciais de 2026?

Neste contexto, se você carrega uma bagagem obsoleta de renda variável em seu currículo do LinkedIn, considere-se um sujeito de sorte: haverá poucos como você, preparados para transitar em um ambiente no qual Bolsa brasileira volta a ser sexy.

Todo esse conhecimento latente, aparentemente inútil, sobre o mercado de ações de repente provar-se-á uma bela opcionalidade. 

E só então entenderemos os sintomas gerais da escassez, lecionados por uma abundância feita para poucos.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.