Day One

Vol é vida

“Como investidor, você precisa adorar a volatilidade. Você tem de amar as oscilações selvagens, porque elas […]”.

Por Larissa Quaresma, CFA

23 ago 2022, 10:36 - atualizado em 23 ago 2022, 10:36

Leitura Rápida Diária
Fonte: Free Pik

“Como investidor, você precisa adorar a volatilidade. Você tem de amar as oscilações selvagens, porque elas significam que mais coisas ficarão mal precificadas.”

(Warren Buffett)

O movimento das ações no curto prazo nem sempre conversa com os seus fundamentos. Em uma curta janela temporal, até quando as cotações caminham na direção certa, o mercado tende a exacerbar: se o fundamento melhorou, a cotação sobe exageradamente; se piorou, a punição é pior do que deveria.

Esse exagero pode ocorrer por questões emocionais, como o medo de ficar de fora ou o pavor de ser o último a sair. Ou, ainda, por questões técnicas: um agente de mercado relevante decidiu comprar ou vender um papel com pouca liquidez, exercendo influência sobre o preço. Precisamos aceitar, também, que o exagero pode ser puramente aleatório.

O fato é que os motivos da irracionalidade não importam. A questão interessante nisso tudo é que, quando há um movimento ilógico, costuma-se abrir uma oportunidade. É importante ficar de olho nessas chances.

Recentemente, tivemos alguns exemplos dessas oportunidades.

Na semana passada, o Nubank divulgou um prejuízo líquido menor que o esperado. Além disso, a apresentação do resultado focou em pontos positivos, como o fato de a operação já dar lucro no Brasil. A ação subiu mais de 10% só no after market. No pregão seguinte, +18%. Entretanto, com o escrutínio do balanço, o analista perceberia que a surpresa positiva era discutível: a companhia comprou uma carteira de crédito externa que ajudou na margem financeira; houve mudança na metodologia de cálculo da inadimplência; e parte das despesas operacionais foram contabilizadas como investimentos de capital, melhorando o lucro. Por mais que sejamos admiradores da companhia e de seus fundadores, a questão aqui é preço versus valor: será que a empresa valia 30% a mais após essa divulgação? Se tem irracionalidade, tem oportunidade. A valorização excessiva foi parcialmente devolvida nos pregões seguintes: -19% até aqui.

Um outro caso foi Rede D’Or, que também divulgou seus números na semana passada. À primeira vista, o operacional foi muito bom. A ação subiu 8% no pregão seguinte. Entretanto, como foi o caso com tantas outras empresas, o resultado foi corroído pela despesa financeira, inflada pela Selic alta sobre uma dívida grande, de R$ 29 bilhões. Nesse caso, os pregões subsequentes mais que devolveram a alta: -14% desde então.

Ontem, tivemos ainda um outro caso curioso, dessa vez envolvendo a Americanas. A companhia anunciou que Sergio Rial será presidente do seu conselho de administração a partir de janeiro. A notícia foi muito bem recebida, já que Rial é um brilhante executivo, que provou sua capacidade de transformação em diversas empresas, como Cargill e Santander Brasil, dentre várias outras. A ação de Americanas subiu 23% ontem. Mais uma vez, faço a pergunta: tenho uma admiração enorme pelo Rial, mas será que a companhia vale 23% a mais por causa da mudança de gestão?

Por vezes, o exagero nos preços é rapidamente corrigido. Nesses casos, embora não seja possível identificá-los antecipadamente, é preciso se posicionar com velocidade. Foi o caso de Nubank e de Rede D’Or, ambas posições vendidas da Carteira Empiricus. Acreditamos, inclusive, que há mais correção pela frente nesses dois casos. Em outras tantas vezes, infelizmente, o preço demora a convergir para o fundamento. Nesses casos, é preciso ter muita paciência.

De toda forma, convido-lhe a gostar, também, da volatilidade. Só há oportunidade de ganho quando o preço descola do fundamento.

Um abraço.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.

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