Com Messi e Cristiano Ronaldo no time, não sou eu que vai bater pênalti.
Quando fundamos a Empiricus, nunca me meti a recomendar ação. Com Felipe e Rodolfo de sócios, dois dos mais brilhantes analistas que conheci, sempre soube que minhas responsabilidades estariam nas outras frentes da empresa.
A única exceção abri em março de 2010, poucos meses depois da fundação da empresa, ao escrever um pequeno texto recomendando a compra das ações da Apple.
Quem seguiu minha solitária recomendação, o que infelizmente não foi o meu caso, não tem do que reclamar.
Ajustando o preço pelos dois splits que aconteceram no período, de 7 para 1 em 2014 e 4 para 1 em 2020, as ações da Apple acumularam uma alta formidável de 24x desde então.
A amostra de uma solitária recomendação não me faz um bom analista, evidentemente. Jamais tive a pretensão nem a necessidade de sê-lo, especialmente em uma empresa que conta com um time de análise da competência do nosso.
De qualquer forma, a compra das ações da Apple no início da década passada mostrou-se uma excelente decisão, com a empresa mostrando expressivo e consistente crescimento em seus resultados, mesmo após a morte de seu fundador, Steve Jobs.
Trago a lembrança do meu único acerto aqui apenas para exemplificar a invejável performance das ações americanas desde o início da década passada, especialmente quando comparadas à melancólica evolução dos seus pares brasileiros.
As ações da Apple, de fato, estão mais para ser regra do que exceção no exuberante mercado de capitais norte-americano no mesmo período em que nossa bolsa coleciona decepções.
A comparação é chocante.
Mil reais aplicados no Ibovespa no dia em que escrevi minha recomendação de Apple teriam hoje se transformado em R$ 1.744. Isso não cobre a inflação do período. Por outro lado, os mesmos mil reais investidos no mesmo dia no S&P 500 teriam se valorizado para R$ 13.240 aos preços de hoje.
A diferença de performance entre as bolsas dos dois países, combinada com a fraqueza de nossa moeda, resulta nessa abissal discrepância de resultados.
E o pior? Enquanto seguirmos padecendo de problemas crônicos que travam o desenvolvimento do nosso setor privado – tais como baixa produtividade, intervencionismo governamental, alta carga tributária –, há poucas razões para se acreditar numa reversão desse quadro.
Não só tiramos da agenda as reformas modernizantes tão necessárias à nossa economia como temos insistido numa desastrosa busca por resgatar os mesmos conceitos desenvolvimentistas que nos jogaram na maior recessão de nossa história ao final do governo de Dilma Rousseff.
Temos, portanto, a obrigação de olhar para fora quando o tema é investimentos.