Medo e Ganância (Fear and Greed).
Aprendi com Bill Bonner, nosso ex-sócio e fundador da The Agora, sobre a importância desses sentimentos tão humanos no funcionamento dos mercados.
Basicamente não teríamos o que hoje chamamos de mercado se todos fossemos participantes racionais, como Eugene Fama descreveu na sua Teoria dos Mercados Eficientes.
Dado que os preços dos ativos refletem as expectativas futuras, qualquer alteração no humor coletivo resulta em imediata oscilação nas cotações.
O intenso ajuste para baixo que testemunhamos nos últimos dias foi uma demonstração clara de como a aversão a risco ou, de forma mais direta, o medo pode ter impacto imediato em nosso patrimônio.
Com o higher for longer virando o meme da vez, e posto que as taxas dos treasuries são referência para todas as outras taxas de desconto, os ativos de risco, e o valor das nossas carteiras, foram rapidamente ajustados para baixo, deixando-nos todos mais pobres.
De repente ficamos todos pessimistas quanto à macroeconomia americana. A persistência da inflação, que não dá pistas de como irá voltar à meta dos 2% anuais, nos levou a concordar com a tese de que teremos que conviver com juros altos por mais tempo.
Taxas de juros subiram a níveis não vistos desde o começo do século. A situação se agrava diante do peso de uma dívida pública americana que já ultrapassou os 30 trilhões de dólares, múltiplos do que era há duas décadas.
Atualmente o custo do carrego de dívida é o principal item de despesa no orçamento americano, ultrapassando os gastos militares que tradicionalmente ocupam esse posto.
A gravidade do cenário tem tirado o otimismo da cabeça dos investidores, combustível essencial para alimentar a ganância que, por sua vez, sustenta o fluxo comprador.
Sem ganância, cresce o medo, criando um campo fértil para o pessimismo.
Morgan Housel, autor do bestseller “A Psicologia do Dinheiro” nos lembra da sedução do pessimismo:
“Diga a alguém que tudo ficará bem e é provável que ele dê de ombros ou olhe com ceticismo. Diga a alguém que ele está em perigo e você terá toda a atenção dele.”
Housel também aponta que otimistas são frequentemente ridicularizados por não se atentarem aos riscos diante de si.
Pessimistas, por outro lado, são admirados por terem discernimento e capacidade de pensamento crítico.
Há uma razão evolutiva para nossa inclinação ao pessimismo. Segundo o Prêmio Nobel Daniel Kahneman, organismos que tratam as ameaças como mais urgentes do que as oportunidades têm mais chances de sobreviver e se reproduzir.
Os últimos dias foram, inquestionavelmente, dos pessimistas.
Lembremos contudo que, por mais que pessimistas sejam necessários e até admirados, o otimismo é traço comum nos mais bem-sucedidos.
Difícil conceber alguém com destaque em sua atividade que tenha sido dominado por uma visão negativa sobre o futuro.
Embora haja sempre razões para pessimismo diante dos riscos do presente, recordemos que no embate de mercado entre medrosos e gananciosos, o futuro caminha para os últimos.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.