Como não há mal que sempre dure, finalmente o mês de setembro acabou.
Neste negro setembro de 2021, praticamente todos os ativos de risco registraram perdas no mês.
A nossa Bolsa foi particularmente ruim, caindo cerca de 6,5% no mês.
Lá fora, a história não foi diferente. O S&P 500, principal índice americano, levou um tombo de quase 5%. A Nasdaq caiu cerca de 6%. Nem a inabalável Suíça escapou, com o seu Swiss Market Index corrigindo em 7% seus preços.
Com esse “barata voa” generalizado, sobrou até para os ativos de cripto, jogando pela janela sua descorrelação com os mercados tradicionais.
O noticiário ruim, tanto doméstico quanto internacional, alimentou a aversão ao risco.
Aqui tivemos os embates em Brasília, riscos de crise institucional e aumento de juros como combate à inflação. Lá fora também persistiram as sinalizações de juros mais altos, por conta do tapering do Federal Reserve, e a (quase) debacle da chinesa Evergrande.
Se tudo isso já não fosse suficiente, descobrimos nesta última semana que o mundo está à beira de uma crise energética, com implicações seríssimas para a economia mundial.
Assustados, os mercados mundiais entraram em parafuso na segunda-feira, e começamos a semana um pouco mais pobres.
Há uma série de fatores que contribuem para o estado atual de desequilíbrio.
Do lado da demanda, temos a volta vigorosa das principais economias do mundo recuperando o tempo perdido pela pandemia.
A maior atividade acelerou o consumo de energia. Como resultado, nunca se viu na Europa estoques de gás tão baixos nesta época do ano.
A escassez fez disparar o preço do combustível prejudicando, por exemplo, a cadeia de produção de fertilizantes, que tiveram sua produção reduzida. O impacto consequente nos preços dos alimentos é só uma questão de tempo.
Do lado da oferta, a situação fica mais embaralhada
Fatores conjunturais e estruturais disparam sinais de alerta vermelho nos mercados de energia.
Uma meteorologia tranquila na Europa reduziu os ventos que alimentam as usinas eólicas da região, enquanto plantas nucleares ultrapassadas vão sendo aposentadas.
Combinado a isso, as crescentes restrições às emissões de carbono limitam a capacidade de produção de energia das tradicionais plantas termelétricas movidas a queima de carvão ou diesel.
Assim, da mesma forma que estamos rezando para São Pedro resolver com suas chuvas nosso problema energético, europeus e asiáticos torcem para que um inverno ameno diminua a necessidade de combustíveis.
Existe, porém, uma outra camada de explicação para o desarranjo da cadeia energética que passa por um outro mercado desequilibrado, o financeiro.
Quem melhor abordou esse aspecto foi o Jeff Currie, analista-chefe de commodities da Goldman Sachs.
Para Currie, a crise que observamos representa a vingança da velha contra a nova economia.
Durante anos, projetos de infraestrutura em geral e de energia tradicional especificamente foram sistematicamente esnobados por investidores atraídos pela promessa de altos retornos na nova economia.
Investir em um projeto de termelétrica não é tão sexy como financiar o crescimento supostamente explosivo de um novo unicórnio disruptivo. De quebra, o financiador ainda corre o risco de ter que prestar contas às expectativas, muitas vezes inatingíveis, da bancada ESG.
Dentro do próprio setor de energia verifica-se uma alocação ineficiente de capital. De um lado, há recursos abundantes para geração solar e eólica. Do outro, há escassez de capital para sustentar modelos tradicionais de geração.
Uma matriz energética robusta apoia-se em uma oferta diversificada de modelos produtivos. Assim, quando a chuva rareia ou os ventos acalmam, consegue-se rebalancear a produção, evitando o colapso.
A alocação ineficiente de capital desequilibrou a matriz energética mundial.
Não nos enganemos. Salvar o planeta é fundamental, mas um banho quentinho é gostoso demais.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,
Caio