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Balança mas não afunda

Tal como um adolescente, o mercado financeiro tem um dom especial para mudar de humor em um piscar de olhos.

Por Caio Mesquita

24 fev 2025, 10:10 - atualizado em 24 fev 2025, 10:18

balança mas não afunda

Imagem: iStock.com/ozgurdonmaz

Tal como um adolescente, o mercado financeiro tem um dom especial para mudar de humor em um piscar de olhos.

O cenário desastroso que marcava o fim de 2024 deu lugar a um início de 2025 bem mais otimista.

Vamos aos números: o Ibovespa acumula alta superior a 7% nos primeiros meses do ano. Em dólar, o desempenho impressiona ainda mais, com o EWZ subindo mais de 15% no período.

Os juros futuros também recuaram, em média, 80 pontos-base, e analistas já descartam o cenário pessimista que projetava uma Selic acima de 16% ainda este ano.

O dólar, por sua vez, caiu para a casa dos R$ 5,70, aliviando quem depende de importações ou planeja uma viagem.

Em poucas semanas, saímos de um pessimismo extremo para algo próximo de um rali nos ativos brasileiros — mas não conte isso ao governo federal, que segue acuado.

No fim de 2024, a combinação de incerteza política e fiscal com um ambiente externo desafiador levou o mercado a adotar uma postura defensiva. Bastaram, porém, algumas mudanças sutis no cenário político e econômico para que os investidores voltassem a apostar em ativos de risco.

Parece haver um consenso crescente de que o movimento pessimista de dezembro foi exagerado. Paradoxalmente, a própria crise abriu as portas para a recuperação: com o dólar a R$ 6,30 e os juros futuros acima de 15%, a assimetria ficou irresistível, atraindo os “gringos” de volta ao carry trade.

Esse tipo de reviravolta não é novidade e reforça a importância de manter uma visão de longo prazo, sem se deixar levar por oscilações momentâneas.

Se há algo que o mercado aprecia é previsibilidade.

Com a popularidade do presidente Lula em queda, as chances de reeleição diminuem, abrindo espaço para nomes mais alinhados ao mercado, como Tarcísio de Freitas. Esse cenário tem impulsionado a confiança e a demanda por ativos brasileiros.

Felipe Miranda, no Day One desta semana, destacou que o enfraquecimento de Lula já está sendo precificado. Como ele colocou, “o pacto fáustico está se materializando”.

Felipe também nota que, com as eleições de 2026 no horizonte e a perspectiva de queda da Selic, o “teta” das posições de risco no Brasil passa a jogar a favor — ou seja, o tempo favorece um rali estrutural, à medida que o mercado antecipa uma mudança de ciclo político e econômico.

A grande questão agora é se essa recuperação técnica pode evoluir para um movimento mais consistente de alta.

Há sinais nesse sentido.

Diante da fraqueza de Lula no Congresso, o governo até pode tentar emplacar novas medidas expansionistas, mas dificilmente conseguirá algo além de 0,5% do PIB — bem abaixo das previsões mais alarmistas.

Em resumo, o barco balança, mas não afunda.

Nesse contexto, o déficit nominal de 2026 perde relevância, com o mercado já vislumbrando um ajuste fiscal pós-Lula.

A possibilidade de alternância política anima investidores internacionais, que veem potencial para um fluxo robusto de dólares caso um candidato competitivo de direita se consolide.

Após um 2024 turbulento, 2025 chegou trazendo otimismo e oportunidades. Quem souber se posicionar pode aproveitar um mercado mais favorável e colher bons frutos.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus