“Cedo demais para dizer.”
Essa teria sido a resposta do então primeiro-ministro chinês Chu Enlai quando perguntado sobre quais seriam os impactos decorrentes da Revolução Francesa.
Posteriormente, descobriu-se que houve um erro na tradução, e que o líder chinês na verdade se referia às manifestações estudantis que agitaram Paris em maio de 1968.
De qualquer forma, a anedota joga luz não somente sobre a importância do tempo na evolução dos fenômenos humanos mas também sobre as diferenças nas perspectivas ocidentais e orientais sobre o tema.
O tempo, e seu papel fundamental sobre finanças e investimento, tem sido tema relevante nesta newsletter.
A matemática demonstra como os retornos compõem-se incrementalmente, dando razão à afirmação de Einstein quanto à natureza maravilhosa dos juros compostos, que precisam de sua dimensão no tempo para produzir resultados.
Há dias, meses e, infelizmente, até anos ruins para nossas carteiras. Analogamente, temos períodos de bonança que engordam nossos saldos.
O sobe-desce do mercado, todavia, não deveria importar, pelo menos aos que almejam a construção de um patrimônio duradouro.
Analistas, gestores, traders e demais participantes de mercado têm obrigação de acompanhar o que está acontecendo diariamente, agindo e reagindo às variações das telas e dos terminais de cotações e notícias.
Além deles, jornalistas e, mais recentemente, podcasters, youtubers e influencers também trazem suas opiniões e comentários na frequência frenética que os meios eletrônicos atuais não só permitem como incentivam.
A cacofonia resultante dessa profusão de agentes retroalimenta a trilionária indústria financeira, mas não determina nossa prosperidade pessoal. Para uma construção patrimonial efetiva, nada melhor do que uma estratégia robusta baseada na composição de uma carteira diversificada composta por ativos de qualidade, deixando o tempo fazer o seu papel.
Temos sempre que abrir nossa teleobjetiva quando avaliamos a performance dos nossos investimentos, especialmente em momentos difíceis como o atual.
Diante de um pessimismo generalizado com a gestão fiscal do governo federal, o mercado vem desidratando os preços dos ativos de risco brasileiros, talvez com certo exagero.
Assim como fazemos com nossos investimentos, vale aqui também inserir uma perspectiva temporal para entendermos como a dinâmica política nos afetará daqui para frente.
Findo o primeiro round das eleições municipais, nem o esquerdista mais otimista encontraria consolo no resultado das urnas.
Sem um único prefeito eleito nas capitais, o partido do Presidente Lula ainda está no páreo em somente quatro cidades no segundo turno, mas com chances (modestas) em apenas uma delas, Fortaleza.
E ainda temos a disputa aqui em São Paulo, onde Boulos, que não é petista, também tem poucas possibilidades de ocupar o gabinete principal do Edifício Matarazzo.
A atual eleição não é um mero ponto isolado. O pêndulo político segue seu caminho à direita desde o pleito municipal de 2016, com a vitória de Lula – ou a derrota de Bolsonaro – sendo o ponto dissonante dessa tendência.
Olhando para frente, a direita nunca teve tantas opções viáveis à presidência, com o governador Tarcísio saindo particularmente fortalecido com a virtual vitória de Ricardo Nunes.
Por sua vez, a esquerda, pendurada na figura de um presidente que chegará nas próximas eleições com 81 anos de idade, está em sua pior posição neste século.
Faltando dois anos para escolhermos o novo presidente, ainda é cedo demais para dizer quem comandará o país em 2027, mas já há quem vislumbre no horizonte a “mãe de todos os ralis”.