“Os covardes morrem muitas vezes antes de sua morte;
Os valentes provam da morte apenas uma vez.
De todas as maravilhas que já ouvi,
Parece-me mais estranho que os homens temam,
Visto que a morte, um fim necessário,
Virá quando tiver de vir.”
Esse trecho, traduzido da peça “Júlio César” de William Shakespeare, faz parte de um diálogo entre o protagonista da obra e sua esposa Calpúrnia, quando Júlio César tenta acalmá-la sobre a possibilidade de ser fisicamente atacado dado o então conturbado ambiente político em Roma.
De fato, o temor de Calpúrnia realmente era justificado e, como todos sabemos, Júlio César foi assassinado nas escadarias do Senado Romano por Brutus, seu filho adotivo.
Nos negócios e nas finanças, também seguimos buscando referências nas biografias dos bem-sucedidos para balizar nosso comportamento diante de dificuldades e obstáculos.
A dos maiores líderes militares da história da humanidade, Júlio César, mais de 20 séculos após sua morte, segue nos inspirando como referência de bravura e coragem na condução de nossas vidas.
Calpúrnia teve, em um sonho premonitório, a visão do marido ensanguentado. Na peça de Shakespeare, o sonho dela traz a imagem de uma estátua de Júlio César sangrando. Independentemente da forma, a angústia de Calpúrnia era, de fato, fundamentada.
Analogamente, tanto empreendedores quanto investidores têm, inevitavelmente, muitas noites perturbadas por maus presságios, antecipando perdas que talvez, diferente da morte de César, nunca se materializem.
Pior que as noites, porém, são aqueles dias quando nada parece dar certo e nossa resiliência é testada nos limites.
Se parar para olhar as estatísticas envolvendo as chances de sobrevivência de novos negócios, o empreendedor desiste na hora.
Uma pesquisa do IBGE revelou que 15% das novas empresas abertas no Brasil fecham as portas já no primeiro ano de atividade e 65% não chegam ao seu quinto ano de funcionamento.
Perdi a conta das vezes que minha convicção nos negócios foi posta à prova. A Empiricus, por exemplo, só se provou como negócio realmente viável depois de quatro anos de inúmeras correções de rota.
Evidentemente existe uma linha tênue entre coragem e imprudência, e ultrapassá-la pode justamente ser o que separa os exitosos dos aventureiros.
Seguindo ainda a sabedoria dos antigos, Aristóteles nos ensinou que a coragem se equilibra justamente entre o excesso de ousadia (imprudência) e a falta dela, na forma do medo.
A coragem, para Aristóteles, é agir com medo e ousadia na medida certa e nas situações apropriadas, e o corajoso não é aquele simplesmente destemido, mas quem sabe enfrentar os medos (ou riscos, no nosso caso) necessários, no momento e na razão corretos.
Platão, para continuar na Grécia Antiga, lembrou que sem sabedoria, a coragem se torna imprudente, pois, sem uma compreensão correta do bem e do mal, o indivíduo corre o risco de temer o que não deve ou de enfrentar o que seria sensato evitar.
Júlio César, ciente dos riscos que estava correndo, deveria ter dado ouvidos à sua mulher, evitando assim seu violento destino.
Diante do perigo iminente, o romano não foi corajoso mas imprudente.
Nos negócios e nos investimentos, faça diferente e combine coragem com sabedoria, evitando os riscos que nos separam dos nossos objetivos de longo prazo.