Contemplar o abismo e comer vidro.
Foi assim que Elon Musk definiu a vida do empreendedor, especialmente no começo de sua jornada.
Assisti a um trecho dessa entrevista do mega-empreender esta semana, enquanto esperava meus filhos se aprontarem para a escola.
Mais jovem e orgulhosamente envergando uma vistosa jaqueta da Tesla, Musk descrevia os desafios de colocar uma empresa para não só funcionar, como efetivamente prosperar de forma sustentável.
Musk alerta que, embora haja breves momentos de alegria, a realidade é diametralmente oposta.
Há os que acreditam, inspirados por influenciadores e coaches cuja experiência empreendedora equivale à do meu filho caçula, que começar uma empresa é divertido.
O empreendedor iniciante contempla constantemente o abismo do fracasso, enfrentando estatísticas de mortalidade vastamente adversas, com consequências graves para seu futuro e o de sua família.
Musk também lembra que o empreendedor constantemente atrai para si os problemas que sua empresa enfrenta, já que não há por que despender atenção aos aspectos que estão funcionando bem.
Assim, lidamos dolorosamente com as forças que constantemente conspiram contra o sucesso. E não há nada de prazeroso em mastigar vidro.
Quando comecei meu primeiro negócio, senti exatamente o que Musk descreveu.
Assombrado com a adversidade constante, passei a sofrer com insônia assim que dei baixa na minha carteira profissional, e virei meu próprio patrão.
Constantemente cansado, sobrava-me pouca energia para encarar os cacos de vidros que diariamente apareciam na minha frente.
Nada do que havia feito em mais de uma década de experiência no mercado financeiro, notório ambiente de estresse profissional, havia me preparado para enfrentar a possibilidade de enfrentar o abismo da insegurança de começar um negócio do zero.
Com o tempo, e também com a ajuda de um terapeuta, fui assimilando aquela que seria minha realidade profissional nas últimas duas décadas.
Recentemente, aprendi com o mestre Fabio Gurgel que a prática do bom jiu-jítsu passa por aprender a encontrar conforto no desconforto.
A frase está inclusive estampada no teto da sala onde treino, estrategicamente colocada para nos acalentar enquanto tomamos sufoco de “100 quilos” de um brutamonte.
De certa forma, nos acostumamos a comer vidro. Como nos lembra Adam Grant, professor de Wharton e autor de best-sellers, “a sensação de desconforto é um sinal de que você está prestes a aprender algo novo”.
Voltando a Musk, minha única crítica fica por conta do caráter estático de sua observação. Se de fato, sim, é verdade que comemos vidro ao enfrentar os problemas inerentes ao desenvolvimento de uma empresa, há porém um aprendizado que, progressivamente, alivia o desconforto do cotidiano empreendedor.
Deixo você agora com os destaques da semana.