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Dinheiro traz felicidade?

“Essa é a pergunta que todos se fazem diante do poder do vil metal […]”.

Por Caio Mesquita

05 dez 2022, 11:11 - atualizado em 05 dez 2022, 11:11

Essa é a pergunta que todos se fazem diante do poder do vil metal.
 
Há estudos acadêmicos que buscam medir a influência da situação financeira sobre a nossa sensação de bem-estar. 
 
Parece haver um consenso de que, a partir de um certo nível, onde as nossas necessidades básicas – como habitação, alimentação, segurança – são atendidas. A relação atinge um platô, ou seja, mais dinheiro não significa mais felicidade.
 
Um estudo recente, porém, trouxe uma nova perspectiva ao tema.
 
Antes, uma observação sobre relações causais.
 
Após a tragédia dos 7 a 1 impostos pela Alemanha, inconformados brasileiros buscaram explicações para o ocorrido.
 
Além das críticas à equipe e ao esquema tático do Felipão, especialistas analisaram nossos adversários procurando os motivos para seu excelente futebol.
 
Tornou-se consenso na cobertura jornalística de que o sistema de futebol alemão, com sua rede de escolas de formação de base, formava uma estrutura inigualável para a criação de equipes vencedoras.
 
Programas esportivos discutiam à exaustão como essa estrutura formada pelos alemães garantiria a hegemonia sobre outros países em geral, e sobre o Brasil em particular.
 
Equipes de reportagem foram enviadas à Alemanha para nos mostrar impecáveis escolas de futebol que, segundo eles, deixavam para trás nossos improvisados campinhos de terra batida na capacidade de forjar talentos.
 
Não havia mais esperança, em suma, para nós brasileiros, condenados a assistir para sempre a superioridade alemã no esporte que tanto amamos, posto que o sistema de base de seu futebol necessariamente garantiria sua hegemonia.
 
Oito anos e duas eliminações na primeira fase da Copa depois, ninguém mais fala do sistema de futebol alemão e muito menos de sua hegemonia.
 
O estabelecimento de relações causais, base inclusive de todo o nosso entendimento da História, passa pelo nosso desejo de controlar as variáveis, minimizando a incerteza de aleatoriedade. Uma tremenda ilusão.
 
Voltando ao meu tema principal – a relação entre dinheiro e felicidade – um estudo mais recente, realizado pelo professor de Wharton, Matthew Killingsworth, mostra que, diferente do que se acreditava, não há platô nessa relação, ou seja, quanto mais ganhamos dinheiro, mais satisfeitos ficamos.
 
É importante deixar claro que o estudo não reduz ao dinheiro a única explicação para a nossa 
felicidade, assim como escolas de futebol bem equipadas não resultam necessariamente em seleções de futebol ganhadoras.
 
O estudo mediu somente a possível correlação entre renda familiar e a sensação de bem-estar. 
 
No estudo anterior, essa correlação quebrava quando a renda média atingia 75 mil dólares anuais (o estudo foi feito nos Estados Unidos). A partir desse ponto, as pessoas não pareciam estar mais felizes, apesar de ganharem mais dinheiro.
 
Killingsworth inovou no seu estudo ao usar um aplicativo que coletava feedbacks instantâneos dos mais de 33 mil voluntários. Assim era possível medir exatamente como as pessoas se sentiam ao longo do dia. Ao final, 1,7 milhão de pontos de dados foram coletados.
 
Ao final, o estudo mostrou que pessoas que ganhavam mais, sentiam-se progressivamente melhor, mantendo essa correlação positiva muito além da faixa dos 75 mil dólares anuais.
  
Killingsworth conclui com uma reflexão sobre essa correlação que, segundo ele, está baseada em um maior senso de controle que a segurança financeira traz:
 
“Quando você tem mais dinheiro, você tem mais escolhas sobre como viver sua vida. Você provavelmente pôde ver isso na pandemia. As pessoas que vivem de salário a salário e perdem o emprego podem precisar aceitar o primeiro emprego disponível para se manter à tona, mesmo que seja um de que não gostem. As pessoas com um colchão financeiro podem esperar por um que seja mais adequado. Em decisões grandes e pequenas, ter mais dinheiro dá à pessoa mais opções e um maior senso de autonomia.”
 
Novos estudos, com novos métodos, podem chegar a outra conclusão.  Até que se prove ao contrário, então, podemos seguir entendendo que a alegria vai muito além dos 75 mil dólares por ano.
 
Deixo vocês agora com os destaques da semana.
 
Boa leitura e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus