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Dúvidas e certezas

Iniciamos o ano com duas notícias. A boa é que 2024, o annus horribilis do mercado, finalmente ficou para a história. Por outro lado, 2025 já começou e com pouca perspectiva de ser efetivamente melhor.

Por Caio Mesquita

20 jan 2025, 09:53 - atualizado em 20 jan 2025, 09:58

duvidas e certezas

Imagem: iStock.com/anyaberkut

Iniciamos o ano com duas notícias.

A boa é que 2024, o annus horribilis do mercado, finalmente ficou para a história.

Por outro lado, 2025 já começou e com pouca perspectiva de ser efetivamente melhor, especialmente para os que investem por aqui.

O momento atual dos nossos mercados brasileiros é desafiador. Juros elevados, dólar pressionado e uma bolsa em queda vêm nos atormentando desde o imbróglio criado pelo governo federal quando do anúncio do mal ajambrado corte de gastos, em novembro do ano passado.

Nesse cenário, é natural que dúvidas e incertezas ganhem força. A tensão foi particularmente aguda no final do ano, forçando o Banco Central a realizar intervenções importantes e frequentes no mercado de câmbio para segurar uma disparada ainda maior.

Esta semana trouxe certo alívio às cotações, não por conta de nossa política econômica, mas sim como consequência de números mais benignos sobre a inflação nos Estados Unidos, abrindo a perspectiva de um dólar menos pujante.

O financista britânico Nathan Rothschild declarou certa vez que sua melhor estratégia de investimentos seria “comprar ao som de canhões e vender ao som de violinos”. Muitos concordam com o velho barão mas, quando a coisa aperta, sobra dúvida e falta convicção.

Ainda tenho fresco na memória a campanha da Empiricus que lançamos ao final de 2015, batizada de “Virada de Mão”. Todos se lembram da grave recessão econômica pela qual o País passava à época, com juros nas alturas, inflação fora de controle e um cenário político turbulento que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.

Na época, o mercado parecia sem perspectivas, com o Ibovespa rondando os 40 mil pontos, e juros futuros ainda mais altos do que os negociados atualmente. Os que não se desesperaram com o barulho dos canhões puderam aproveitar a forte recuperação dos mercados que, após a arrumação na casa promovida pelo presidente Temer, recuperaram-se fortemente embalados pela doce melodia dos violinos.

O pessimismo de hoje pode ser a semente de grandes oportunidades no futuro. Assim como nos anos 90, quando enfrentamos a hiperinflação que deu origem ao Plano Real, ou na crise global de 2008, os períodos de maior instabilidade tendem a revelar ineficiências que podem ser exploradas com sabedoria.

Mesmo diante desse cenário difícil, é importante observar que boa parte das más notícias já está precificada nos ativos brasileiros. Ainda nesta semana, a reputada consultoria internacional Gavekal publicou um relatório destacando justamente isso.

Para que as coisas piorem significativamente, segundo a Gavekal, seria necessário um evento excepcional, como uma crise política ou constitucional grave. Por outro lado, existem caminhos claros para a melhora. A aproximação das eleições de 2026 deve começar a influenciar o humor dos mercados já em 2025, especialmente se houver sinais de mudança política.

Vale destacar que, mesmo em um ambiente desafiador, os ativos brasileiros oferecem valor significativo. As ações estão sendo negociadas a múltiplos baixos, com dividend yields atrativos, enquanto os títulos públicos apresentam uma rara combinação de liquidez e retornos reais elevados.

É claro que, com juros reais tão altos, é difícil esperar uma recuperação rápida para as ações. Mas, olhando para o médio e longo prazo, uma eventual queda no dólar, um ciclo positivo de commodities ou melhorias no cenário político podem criar o ambiente ideal para retornos robustos.

É nesses momentos que a paciência se torna um dos ativos mais valiosos. Investir pensando no longo prazo não é apenas uma estratégia, mas uma filosofia. O tempo é um aliado poderoso para quem consegue manter a calma em meio às turbulências. Como Warren Buffett já disse, “o mercado é um dispositivo para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes.”

Agora é a hora de revisar sua carteira, refletir sobre suas estratégias e garantir que suas alocações estejam alinhadas com seus objetivos de longo prazo. Pergunte a si mesmo: estou aproveitando as oportunidades que este momento oferece? Tenho uma visão clara do que quero conquistar no futuro?

Cada crise carrega em si o potencial para transformações positivas. Nosso papel é ajudá-lo a enxergar além das dificuldades imediatas e identificar as oportunidades que podem fazer a diferença. O sucesso, como sempre, virá para aqueles que mantiverem a constância e a paciência.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus