“Caio, enrole bem o barbante na sua mãozinha. Firme. Assim ele não voa.”
Essa foi a última frase que meu avô Antonio disse antes de sairmos de casa.
Ele havia acabado de voltar da feira, de onde trouxe, além dos pastéis, um balão de gás, daqueles de hélio, pintado com as cores da bandeira do Brasil.
Era 7 de setembro, e eu passava o dia na casa dos avós.
Estava animadíssimo para sair à rua e ver a cidade decorada. Sob o regime militar, o Dia da Independência tinha comemoração intensa, e o verde e amarelo dominava a paisagem.
Com o balão amarrado na mão direita, tomei com a esquerda a mão do meu velho e fomos para a rua.
O dia estava lindo, como às vezes temos ao fim do inverno paulistano.
Não me recordo exatamente quantos anos tinha, talvez 6 ou 7 anos, idade próxima ao David, meu caçula.
Lembro do meu orgulho de pequeno brasileiro, levando o símbolo do nosso país naquela bexiga colorida.
Naquela felicidade pura e exclusiva das crianças, quase levitava junto com o balão. A companhia do meu querido avô completava perfeitamente a deliciosa emoção.
Uns dez minutos dentro da nossa caminhada, um caminhão cheio de soldados, provavelmente em direção à parada militar, passou por nós.
Fascinado, parei e fiquei observando os homens em uniforme, sentados com seus rifles postados na posição vertical.
Absorto com a cena, distraí-me por instantes.
Não me recordo exatamente como, mas provavelmente relaxei a mão, talvez acenando para os soldados.
Isso deve ter sido suficiente para o barbante se desenrolar levando junto o balão, que rapidamente subiu aos ares.
A imagem da esfera verde, diminuindo até tornar-se um pontinho contra o azulíssimo sol da manhã, ainda está perfeitamente gravada da minha mente, quase meio século depois.
Após o ponto desaparecer, lembro de ter abaixado a cabeça e, em lágrimas, ficar fitando a minha tenra mãozinha e ver as marcas que o barbante deixara na pele, antes de partir com o meu precioso objeto flutuante.
Foi uma das minhas primeiras experiências de impotência com uma perda irreparável.
Nada que eu pudesse fazer naquele momento poderia trazer meu balão de volta.
Desesperado, chorei até perder o fôlego.
Meu avô, homem de sua geração, acolheu da única forma possível para alguém que nasceu no começo do século passado: “Aprenda a lição, meu neto. Cuide melhor de suas coisas”.
Nesta semana, ao vestir o David, a pedido dele, com o uniforme da Seleção Brasileira, para passearmos no feriado, lembrei dessa passagem.
Abraçando meu pequeno, senti a continuidade de vida que conecta gerações.
O Vovô Antonio que carrego dentro de mim segue sendo uma das referências de responsabilidade e zelo com o que construí.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Um abraço e boa leitura.
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