Com filhos em idade escolar, termino acompanhando de perto os assuntos e as matérias que aprendem.
Estudam em uma escola moderna, assim, além dos cursos obrigatórios – matemática, línguas, ciências, história –, as crianças aprendem sobre temas atuais, de programação a inclusão social, isso sem falar de artes, música e esportes.
Há um tema, porém, que não vejo sendo tratado por lá, por mais importante que seja.
Por sinal, o mesmo tema foi também ignorado na minha experiência escolar, bem mais tradicional do que a dos meus filhos.
Dinheiro.
Por mais que se fale da importância da educação financeira, não percebo qualquer tipo de mudança estrutural para melhorar a nossa formação no tema.
Somos simplesmente empurrados para o mercado de trabalho para aprender, ou não, na prática como gerenciar nossas finanças.
Ao longo das mais de três décadas da minha carreira profissional, tenho encontrado pessoas com boa relação com o dinheiro, e outras nem tanto.
Diferentemente do que seria esperado, não vejo correlação positiva entre posição financeira e relacionamento com dinheiro, pelo contrário, percebo um aumento do sofrimento à medida que o patrimônio pessoal progride.
Para começar, raramente encontro alguém que se contenta com o já conquistado. Aquele número mágico da independência financeira segue sendo empurrado para cima, assim que nos aproximamos dele.
O filósofo romano Sêneca nos ensinou que quanto mais desejamos, mais pobres nos sentimos.
Para o estoico, possuir o suficiente significa ter um copo cheio até a borda. Quanto mais desejamos, maior o copo, o que aumenta nossa necessidade por água.
Passamos a vida aumentando nosso copo, que nunca chega a estar completamente cheio.
Se moramos de aluguel, queremos uma casa. Se temos uma casa, queremos uma maior. Se temos uma maior, queremos uma segunda, na praia ou no campo. Se temos uma na praia, precisamos de um carro mais confortável para viajar. Se passamos os fins de semana na praia, queremos férias no exterior. Se passamos férias no exterior, queremos o conforto da viagem na classe executiva, e o copo segue aumentando.
Assim, o número mágico segue subindo para fazer frente às novas necessidades e vontades. A ansiedade, fruto do desejo não atendido, nos impede de desfrutar o sucesso que tínhamos almejado.
Sempre que possível, devemos nos lembrar qual era o tamanho do nosso copo lá no princípio e imaginar o quanto transbordaria com a água que temos hoje.
Voltando aos romanos, Júlio César chorou diante do túmulo de Alexandre, o Grande, ao constatar que, com a mesma idade, suas conquistas eram insignificantes diante das glórias do macedônio.
A comparação constante, invariavelmente com quem está acima de nós, perfura o nosso copo, esvaziando o que antes pensávamos como suficiente.
Se queremos comparação, tenhamos em nós mesmos o objeto de referência.
A construção de uma trajetória consistente é a melhor lição em educação financeira que podemos dar aos nossos filhos.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.