A estátua de David, criação de Michelangelo, é um dos ápices do engenho artístico da espécie humana e pode ser considerada a estátua mais famosa do mundo.
Lembro vividamente a emoção que tive quando fiquei frente a frente com a obra pela primeira vez, numa viagem de inverno à Itália ao final de 2009.
A indescritível emoção de me deparar com a perfeição ainda me acompanha e espero ansioso pelo dia em que poderei compartilhar essa visão com os meus filhos.
No mundo atual, em que uma banana pregada na parede é considerada arte, os detalhes da execução da obra tornam-se ainda mais espetaculares.
Além do desafio da criação artística, o ato físico de esculpir é, por si só, uma proeza, pois requer uma combinação de enorme força física com uma fina delicadeza para os detalhes.
Normalmente escultores trabalham em cima de modelos de argila que servem de guia para as marcações definitivas na pedra. Michelangelo trabalhava à mão livre, esculpindo diretamente na pedra sua criação. Qualquer erro na transição entre a concepção e a execução da obra poderia causar danos irreparáveis.
Michelangelo começava seu trabalho desbastando a pedra, martelando com um formão de ponta grossa. Progressivamente as ferramentas tornavam-se mais finas até o polimento final.
O mármore usado na escultura de David estava longe de ser considerado ideal. O bloco era frágil e já tinha sido usado e abandonado por outros escultores. Um deles talhou um buraco na parte inferior da pedra que Michelangelo aproveitou para esculpir o vão entre as pernas da estátua.
O cuidado do artista na execução da obra foi tamanho que até a dinâmica do sistema vascular de David foi tratada. As veias da mão levantada mostram menos pressão, sendo mais suaves, do que na mão abaixada.
A obra-prima segue maravilhando o mundo depois de mais de cinco séculos de sua execução.
Quando o papa solicitou ao artista explicações sobre a perfeição de sua criação, Michelangelo respondeu que simplesmente retirou tudo que não era “David” do bloco de mármore.
A explicação de Michelangelo é uma perfeita definição da via negativa, ou seja, explicar algo pelo que não é.
Teólogos da igreja ortodoxa utilizavam a via negativa para explicar a natureza divina. Assim Deus poderia ser definido pela eliminação do que Ele não fosse.
Segundo Nassim Taleb, charlatões podem ser identificados por jamais utilizarem a via negativa. Em seu lugar, sempre oferecem conselhos positivos, tendo propostas prontas para resolver os problemas da humanidade em dez passos.
Invariavelmente, o sucesso está atrelado à minimização dos erros.
Nos esportes competitivos ganha quem erra menos.
Roger Federer talvez seja o maior tenista de todos os tempos vencendo apenas 55% dos pontos que disputou.
Michael Jordan protagonizou um comercial da Nike confessando seus mais de 9 mil arremessos errados.
Esta semana conversei com o brilhante gestor de ações João Braga para o podcast Mesa pra Quatro sobre a importância de minimizar erros para lograrmos sucesso de longo prazo em nossos investimentos.
Assim como um golpe mal dado por Michelangelo poderia ter destruído uma escultura, uma ação errada pode atrapalhar bastante a rentabilidade de um portfólio todo. Parte da performance ruim do Ibovespa na década passada é explicada pela implosão de um único papel: OGX.
Falta de diversificação, alavancagem exagerada, foco no curto prazo, confiança em excesso foram alguns dos exemplos de atitudes equivocadas que Braga nos trouxe que afetam a performance de longo prazo de qualquer investidor, dos iniciantes aos profissionais.
Sabemos que erros são inevitáveis, mas o nosso empenho deve ser sempre no sentido de reduzi-los, já que a perfeição não nos pertence, a não ser que você seja um Michelangelo.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,
Caio
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