“Todo mundo tem um plano até que leve um soco na boca.”
A célebre, e sábia, frase foi proferida pelo boxeador Mike Tyson ao responder a jornalistas sobre seus planos antes de enfrentar Evander Holyfield.
Nunca fui fanático por boxe. As lutas sempre me pareceram entediantes, com intermináveis sequências de clinches e outras táticas defensivas.
O único lutador que me motivou a ficar até mais tarde para assistir um confronto foi Mike Tyson.
Não estou sozinho nessa. A atuação de Tyson capturou o fascínio de toda uma geração. Para mim, era programa obrigatório reunir-se com a turma do colégio para acompanhar suas lutas na TV.
Invariavelmente as disputas eram rápidas. Passávamos a noite toda aguardando Tyson, com direito a pizza e refrigerante, para vê-lo destruir seus oponentes em poucos segundos.
Compensando sua baixa estatura, e envergadura, com uma explosão e uma agressividade inigualável, Tyson representava uma lufada de ar fresco no então envelhecido mundo do boxe.
Nada de roupões de cetim e botas reluzentes. Tyson entrava nas lotadas arena vestindo o que parecia um saco com um buraco para a cabeça. Por baixo, calções e botas pretas, sem meia. De fundo, hip-hop do gueto, em vez de épicas músicas motivacionais. A garotada pirava.
Recordo-me especialmente da luta relâmpago contra Michael Spinks, em 1988. Ambos estavam invictos até então, com Spinks sendo considerado favorito por muitos, inclusive por Muhammad Ali.
Ao rever a luta, com direito a um jovem e animado Donald Trump na transmissão, dá pra perceber claramente que, já na apresentação dos lutadores, um assustado Spinks não compartilhava o mesmo otimismo de Ali sobre sua participação.
Lembro também da primeira derrota de Tyson, contra o azarão Buster Douglas em Tóquio. A visão do até então invencível campeão, derrotado e ajoelhado, buscando apoio nas cordas, ficou para sempre gravada na minha memória. O majestoso leão era finalmente abatido.
Voltando à abertura, a frase de Tyson, tão humana e verdadeira, nos ensina a como lidar com o incontrolável.
Tal lembrança torna-se apropriada especialmente nos momentos em que a autoconfiança acumulada em experiências recentes encharca nosso ego.
O rali recente trouxe merecido ânimo às nossas carteiras. Todavia, o bom resultado ao final do ano mascara a acidentada jornada de 2023.
A propósito, presto aqui minha homenagem ao brilhante trabalho do time de análise da Empiricus que entregou excelente performance aos assinantes em um ano em que muita gente grande fracassou.
Passando agora a 2024, o plano traçado parece claro. O cenário de corte de juros, tanto lá fora como aqui, traz otimismo aos investidores, animados com a perspectiva de consolidação de um bull market.
Diante disso, respeitando sempre os princípios da diversificação e não esquecendo das devidas proteções, nada mais natural que adicionemos risco às nossas carteiras, a fim de melhor aproveitarmos o panorama prospectivo.
Posto isso, cabe a nós encararmos 2024 com a devida altivez e resiliência. Cenários são meras construções mentais, diferente da concretude da realidade a ser enfrentada.
Como disse Mike Tyson:
“Todo mundo tem um plano até que leve um soco na boca”.
Deixo você agora com os destaques da semana e aproveito para desejar boas festas neste fim de ano.
Boa leitura e um abraço.