O escritor canadense Malcolm Gladwell popularizou o conceito de “tipping point”, também conhecido como “ponto da virada”, em seu livro best-seller de mesmo nome.
Esse conceito se baseia na ideia de que mudanças significativas e dramáticas podem ocorrer quando um ponto crítico é alcançado em um processo de mudança.
Como a última gota que faz o copo d’água transbordar, o ponto da virada marca o momento em que uma tendência atinge um ponto crítico de aceitação, provocando uma repentina mudança no status quo.
Há muito tempo se fala sobre a importância dos ciclos econômicos e monetários no comportamento do mercado.
No Brasil, o atual ciclo de alta nos juros começou na primeira metade de 2021, após quase um ano de convivência com a menor taxa de juros da nossa história, a Selic a 2% a.a..
Assim que o Banco Central pausou os aumentos no ano passado, iniciaram-se as apostas para quando se daria o início do afrouxamento monetário.
Inicialmente, o mercado apontava o começo dos cortes para a primeira metade de 2023, mas com a gestão econômica do novo governo enfrentando dificuldades, as apostas foram não só ajustadas, mas revertidas, com a curva de juros apontando a probabilidade de novos aumentos na Selic no decorrer do ano.
Com juros em alta, os ativos de risco sofrem, e isso se reflete na queda progressiva do Ibovespa e em nossas carteiras.
Apesar do pessimismo generalizado, fatores que contribuem para um cenário de juros menos restritivos começaram a se alinhar.
Nos Estados Unidos, a crise envolvendo o Silicon Valley Bank e outros bancos regionais freou o ímpeto de Jerome Powell de apertar ainda mais os juros por lá.
Por aqui, recebemos do Ministro Fernando Haddad o esperado projeto de arcabouço fiscal, definido pela Verde Asset como “pior do que o necessário, mas melhor do que o temido”. É importante destacar a segunda parte da declaração, pois isso afasta a possibilidade de virarmos a Argentina.
Nesse contexto, o tipping point ficou por conta do IPCA de março divulgado na última terça-feira, que mostrou um comportamento dos preços melhor do que o esperado.
De pronto, os participantes do mercado revisaram suas projeções para a inflação do ano, precipitando um forte ajuste nas taxas de juros projetadas e jogando oxigênio nas ações brasileiras.
A inflação mais amena transbordou o copo do Ibovespa, produzindo a maior alta diária do índice desde outubro do ano passado, quando a eleição de um congresso mais conservador animou o mercado.
O número positivo também fez o copo do dólar transbordar. O movimento de depreciação da moeda americana, iniciado no fim de março, acelerou na terça-feira, furando rapidamente o suporte dos cinco reais, nível mais baixo desde junho do ano passado.
Esse dólar mais baixo tem impacto positivo na inflação futura, retroalimentando uma perspectiva de juros mais baixos lá na frente.
Obviamente ainda é cedo para cravar que o ciclo realmente virou. A realidade é que temos um governo de esquerda, com pouca convicção na austeridade fiscal. Quando adiciona-se a isso uma aparentemente inesgotável capacidade de autossabotagem, a perspectiva de um capotamento na reta não é desprezível.
Apesar disso, a mudança no balanço das expectativas nesta semana tem implicações importantes para os investimentos, o que exige uma maior atenção às nossas carteiras e a necessidade de posicioná-las corretamente diante das oportunidades que possam surgir.
Nesse sentido, estamos preparando uma imersão exclusiva para assinantes que querem pinçar essas chances pontuais de lucro pra buscar acumular um patrimônio milionário num potencial superciclo econômico.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,