O povo está certo, o brasileiro realmente não tem um dia de paz. Após tanta hesitação do governo em apresentar medidas concretas para equilibrar as contas públicas, o governo soltou um pacote torto, combinando cortes com renúncias fiscais.
Como disse André Esteves, chairman do BTG Pactual, “saudades dos tempos em que o anúncio do pacote de cortes de gastos era adiado todo dia…”.
A reação ao desastrado anúncio não poderia ter sido pior. Com baixa liquidez por conta do feriado americano de Thanksgiving, nossa bolsa derreteu, o dólar subiu e os juros futuros dispararam.
Diante desse cenário desolador, com o País caminhando para o impasse e com um governo jogando contra, fica difícil encontrar algum tipo de consolação.
Enquanto lamentamos nossa sorte, há algo acontecendo mais ao sul que começa a chamar atenção.
Em poucos meses no poder, Javier Milei, o presidente da Argentina, já deu passos firmes para colocar o país no caminho da recuperação.
Enfrentando o espectro da hiperinflação e um histórico de políticas econômicas mais que desastrosas, Milei tem implementado reformas profundas com uma determinação rara.
Resultado: em um curto período, a Argentina começou a restaurar a confiança de investidores globais e reverter parte da descrença que há anos define sua economia.
O contraste é gritante. Enquanto Milei age com rapidez para reverter décadas de desordem econômica, o Brasil parece paralisado, preso em debates intermináveis e decisões adiadas. O resultado é que, enquanto a Argentina começa a se reposicionar como um destino atrativo para investimentos, o Brasil afunda em um ciclo de pessimismo, com expectativas que só pioram a cada semana.
Em momentos assim terminamos esquecendo o conselho do Barão de Rothschild, e vendemos ao som dos canhões, realizando prejuízos que dificilmente serão recuperados.
Basta passar os olhos pelas telas, porém, para perceber o que está acontecendo. Empresas resilientes, com fundamentos sólidos e boa gestão, estão sendo punidas de forma desproporcional em função de um pessimismo generalizado. Essas assimetrias criam uma oportunidade rara para o investidor estratégico. O risco percebido está precificado; o retorno potencial, não.
Histórias de sucesso nos investimentos quase sempre começam em momentos como esse. Quando a maioria recua, é a coragem de se posicionar que faz a diferença. Claro, não é uma questão de ignorar os riscos, mas de reconhecer que períodos ruins não duram para sempre e que o mercado recompensa quem tem paciência e visão de longo prazo.
É verdade que o Brasil enfrenta desafios profundos. Nossa economia cresce a passos lentos, e o ambiente regulatório continua complicado. Mas economias são cíclicas, e a história mostra que longos períodos de dificuldade frequentemente precedem momentos de recuperação significativa. A maré vira, cedo ou tarde.
Além disso, a incerteza política também traz oportunidades. Se o cenário global continuar favorecendo a ascensão de governos mais alinhados ao mercado — como temos visto em outros países, incluindo a Argentina —, o Brasil pode seguir esse caminho. Aqueles que se posicionarem antes poderão capturar os ganhos de uma recuperação. Não é uma questão de “se”, mas “quando“.
Quem acreditou nas ações argentinas este ano acumula um ganho de 65% em dólares, contra uma perda de 25% na bolsa brasileira, também em dólares.
O maior risco hoje talvez seja justamente em ficar de fora. Perder o momento em que as assimetrias estão a favor do investidor é muitas vezes mais caro do que suportar a volatilidade no curto prazo. Como dizia Warren Buffett, “o mercado é um mecanismo que transfere dinheiro dos impacientes para os pacientes”. E isso nunca foi tão verdade quanto agora.
Olhando para o cenário atual, a pergunta não é se devemos agir, mas onde e como. Este é o momento de olhar para ativos descontados, empresas com boa gestão e setores resilientes. É também o momento de diversificar, para proteger o portfólio e estar pronto para capturar as oportunidades que surgem quando o ciclo muda.
Como em outras crises, os mais atentos sairão fortalecidos. O mercado castiga a hesitação e recompensa a coragem, desde que ela venha acompanhada de estratégia. E, por mais que o presente pareça incerto, uma coisa é clara: o futuro pertence a quem sabe plantar nas tempestades.