Além do calor insuportável, novembro tem trazido bons ventos aos nossos investimentos.
Lá fora, uma sequência de indicadores mostrando o arrefecimento da economia americana, com impacto benigno sobre os preços, empurrou os juros longos para baixo, causando euforia nos mercados.
Por aqui, tivemos também a ajuda de uma inflação mais benigna, além de certa diluição do risco fiscal com Haddad mais fortalecido no xadrez de Brasília.
De repente, o Ibovespa passou a resistência dos 120 mil pontos, sendo agora negociado em níveis recordes para o ano.
Quanta diferença para o final de outubro, quando os juros americanos de 10 anos testavam a resistência dos 5% a.a. e o Ibovespa patinava nos 112 mil pontos, deprimido pelo descrédito de Lula sobre a meta fiscal de 2024.
A leitura do noticiário financeiro de então dava ampla razão ao pessimismo e à aversão a risco.
Analistas e especialistas demonstravam preocupação com a perspectiva para os ativos de risco, recomendando cautela diante do cenário negativo.
As redes sociais em geral, e influenciadores em particular, reforçavam a mensagem do perigo que rondava nossos portfólios.
A reação natural do investidor assustado com tanto pessimismo seria ajustar sua carteira, vendendo ativos de risco que, tudo levava a crer, iriam se desvalorizar em breve.
Se assim tivesse feito, agindo rapidamente em resposta às informações, esse investidor teria se lascado, amargando perda de dinheiro e de sono.
A história é pródiga em casos como esse em que, na tentativa de bater o mercado, o investidor troca o pé, operando muito e perdendo também.
O Magellan Fund, do lendário gestor Peter Lynch, fez história por ter sido um dos melhores fundos de ações dos Estados Unidos no século passado, com um espetacular retorno anual de 29%, no período em que Lynch o comandou, entre 1977 e 1990.
Assim mesmo, o investidor médio do fundo, durante esse período, perdeu dinheiro.
Como isso é possível? A explicação é simples. Esse mesmo investidor, na média, investiu quando a cota estava cara e resgatou com uma cota barata.
Ansioso por agir diante das informações que recebia, o investidor médio do Magellan tirou e colocou dinheiro em momentos equivocados, pondo por terra todo o brilhante trabalho do Wizard of Wall Street em gerar valor aos seus cotistas.
Esse impulso em agir, muitas vezes com resultados piores do que se nada fosse feito, é chamado de “viés de ação”, em inglês “action bias”.
O comportamento do goleiro diante do batedor de pênaltis é um bom exemplo do viés de ação.
Para um jogador profissional acertar um alvo de mais de 17 metros quadrados estando a apenas 11 metros de distância não envolve grandes dificuldades (exceto ao nosso glorioso lateral direito Fagner).
Não é à toa que quatro em cada cinco cobranças de pênalti são convertidas em gol.
Estudos indicam que a melhor estratégia para o goleiro diante do cobrador seria ficar parado, algo que é feito em pouco mais de 5% das cobranças.
Existe aqui não só um viés de ação do goleiro mas também da própria torcida, que dificilmente aceitaria uma postura que seria considerada displicente por parte do atleta.
Provavelmente nossa propensão exagerada à ação se deve à própria origem da espécie humana, quando ações diante tanto do perigo quanto da oportunidade eram bem recompensadas.
Somos descendentes dos que reagiam rápido à ameaça de um grande felino, e não daqueles que esperaram para ver.
Como não vivemos mais na savana porém, lembremos o que escreveu Blaise Pascal:
“Todos os problemas da humanidade decorrem da incapacidade do homem de ficar sentado quieto e sozinho em uma sala.”
Deixo você agora com os destaques da semana.
Um abraço e boa leitura.