Nada como um dia após o outro. Ou, neste caso, uma semana após a outra.
Na minha newsletter anterior, tratei do ponto de virada que o número da inflação de março, abaixo do esperado, nos trazia.
Não se pode traçar uma reta a partir de um ponto somente. Sabendo disso, é natural que haja dias ruins intercalados com dias bons mesmo dentro de uma trajetória ascendente.
Ainda sobra preocupação quanto à convicção do atual governo em cumprir os compromissos fiscais necessários para a estabilização da economia de maneira geral e da dívida pública especificamente.
O clima deu uma azedada especialmente após a apresentação do projeto de lei do arcabouço fiscal onde encontramos exceções demais e sanções de menos caso o governo não cumpra o que foi estabelecido.
No final do dia, o mercado duvida que um governo de esquerda comporte-se de forma responsável, evitando o descontrole nas contas públicas que teria consequências nefastas para nossa economia. Afinal, como se esquecer do espectro dos anos de Dilma Rousseff e o seu “Fim do Brasil”?
Isso para não falar do pesadelo hiperinflacionário para onde caminha a Argentina, após anos sob a maluquice do populismo de esquerda dos peronistas.
Recentemente fui com a família a Portugal, país governado pelos socialistas desde 2015, tendo inclusive contado com o apoio formal dos comunistas até 2019.
Numa ensolarada tarde da primavera lisboeta
Tendo visitado Portugal desde 1993, conheço bem o país. Chegamos inclusive a ter por lá uma filial, a Empiricus Portugal, por alguns anos.
Lisboa, em especial, me é especialmente agradável, com seu charme europeu temperado pelas influências tropicais daqui e da África.
Fiquei positivamente surpreendido com o desenvolvimento da cidade, a qual não visitava desde 2016. O comércio cresceu e se diversificou. Edifícios reformados. Ruas limpas e parques bem cuidados. E uma quantidade de turistas na rua que lembra capitais européias consagradas como Paris e Roma.
Após anos complicadíssimos na primeira metade da década passada, quando o país flertou com a bancarrota durante a crise dos PIIGS, Portugal tem surpreendido até os mais otimistas, mostrando anos consecutivos de forte crescimento econômico.
Desde 2013, Portugal tem registrado crescimento do PIB per capita todos os anos, com exceção, por conta da pandemia, de 2020. No ano passado, o PIB português mostrou um aumento de 6,3%, recorde dos últimos 35 anos e de dar inveja às pujantes economias asiáticas.
Com o crescimento da economia, Portugal reverteu a trajetória da dívida pública. Embora ainda elevado para um país de desenvolvimento médio, o endividamento público em relação ao PIB baixou de 135% à época da crise financeira para menos de 120%, isso mesmo após os forçosos gastos despendidos durante a pandemia.
Como resultado dessa melhora, o mercado hoje precifica o risco português em níveis mais baixos do que o atribuído a países antes percebidos como economicamente mais robustos como Itália e Espanha. Os bonds portugueses de 10 anos, que em 2012 chegaram a ser negociados a 14% a.a., hoje pagam pouco mais de 3% a.a., isso mesmo após o recente ciclo de altas nos juros promovido pelo ECB.
O êxito econômico português foi tanto que esquerdistas do mundo todo, e principalmente por aqui, mencionam a nossa pátria-mãe como exemplo do sucesso de políticas socialistas no manejo da economia.
Deveríamos então abandonar nosso desejo de austeridade, passando a apostar no efeito multiplicador do gasto público para voltarmos ao caminho da prosperidade?
O caso português, quando analisado em detalhe, nos indica justamente o contrário. Depois do rigoroso ajuste econômico executado pelos social-democratas (parece familiar?), que incluiu até a reduções nas aposentadorias e salários de funcionários, os socialistas assumiram com a casa arrumada.
Para sorte dos portugueses, o governo de António Costa deixou as promessas de campanha para trás, sustentando o rumo da responsabilidade fiscal do governo anterior.
O governo socialista não só manteve como, em alguns casos, até aprofundou a austeridade promovida pela gestão anterior. E como houve queda na arrecadação nos primeiros anos de António Costa, o ajuste se deu pelas despesas e não pelo aumento de impostos.
A implementação do instituto do Golden Visa, mérito também dos social-democratas, impulsionou o interesse extrangeiro em Portugal, trazendo um fluxo constante de investidores e investimentos, principalmente no setor imobiliário.
Com um governo sob controle, a iniciativa privada teve espaço e tempo para prosperar, como comprovados pelos positivos indicadores econômicos.
Em resumo, os socialistas portugueses, para o bem da nação, simplesmente não capotaram na reta.
Em sua atual viagem a Portugal, Lula poderia falar menos e prestar atenção no que realmente dá certo.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,