Quando a recém-empossada primeira-ministra britânica, Liz Truss, anunciou seu polêmico pacote fiscal, os mercados do país entraram em parafuso.
As perdas foram particularmente significativas para os gilts, como são chamados os títulos públicos britânicos, cuja capitalização de mercado foi reduzida em 200 bilhões de libras somente no mês de setembro. Tal movimento empurrou a taxa de juros dos títulos de 10 anos do país para o nível mais alto desde 2010.
Por conta de vendas forçadas, antes de estabilizar em 4%, a taxa dos gilts chegou a bater 4,5%. O movimento vendedor veio especialmente das carteiras dos fundos de pensão que, por conta das marcações a mercados, foram obrigados a se desfazer de suas posições a qualquer preço, empurrando as cotações para uma espiral negativa.
Quando abrimos nossos aplicativos de investimentos após períodos de estresse financeiro, fica claro o impacto da marcação ao mercado no nosso bolso.
Há quem questione se o último negócio deve ser realmente referência para a valorização do ativo como um todo. É a tal estória do apartamento vendido na bacia das almas desvalorizar o prédio inteiro.
De qualquer forma, com sua liquidez e transparência nas transações, não há como fugir da realidade da precificação a mercado dos títulos públicos.
Em ativos privados, há mais espaço para subjetividade.
O fundo de Harvard, com mais de 50 bilhões em ativos, o maior endowment americano, prevê importantes ajustes para baixo em suas participações privadas, já que antecipa que as auditorias anuais devem forçá-lo a reduzir as avaliações de ativos não listados.
Na primeira metade de 2022, o endowment apresenta uma performance negativa de 1,8%, bem melhor que o S&P 500 (menos 11%) e os Bonds do tesouro americano (também com 11% negativos). A falta de marcação a mercado das participações privadas explica essa desconexão momentânea.
Obviamente, Harvard não é o único grande investidor que tem se beneficiado de ter parte de suas carteiras insuladas das variações diárias nos preços dos ativos.
Desde a crise financeira de 2008, grandes investidores institucionais vêm aumentando suas participações em ativos privados, em um movimento talvez intencional de proteção ao volátil humor dos mercados públicos.
Uma matéria publicada pela Bloomberg mostra que esses investidores dobraram as participações privadas na última década:
Por aqui, a Anbima (Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais) passará a exigir, a partir do ano que vem, que títulos de renda fixa privada também sejam marcados a mercado.
Até hoje, esses títulos eram marcados na curva, ou seja, independentemente das taxas de juros praticadas no momento, os títulos conservavam a precificação pactuada no momento em que foram adquiridos.
Enquanto títulos atrelados ao CDI apresentam pouca variação nos preços de mercado, o mesmo não pode ser dito daqueles indexados a índices de inflação, muito menos daqueles prefixados.
Consequentemente a nova marcação exigida pela Anbima trará uma nova emoção para a atualização de nossas carteiras de renda fixa privada.
Por outro lado, a nova metodologia representa mais adequadamente o verdadeiro valor de nossas posições, especialmente se desejarmos vender nossos títulos no mercado secundário.
Aos que ainda têm dúvidas sobre a nova marcação da renda fixa privada, nosso time está preparando um material que explica exatamente o que vai mudar a partir do ano que vem.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.
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