Empiricus 24/7

Mata-burro

Até mesmo um iniciante no tênis sabe o que é o “mata-burro” e procura evitá-lo […]

Por Caio Mesquita

04 fev 2024, 08:00 - atualizado em 05 fev 2024, 07:59

Jogador de Tenis
Imagem: Freepik

Até mesmo um iniciante no tênis sabe o que é o “mata-burro” e procura evitá-lo.

Como aprendemos já nas primeiras aulas de tênis, as posições corretas para receber a bola são tanto atrás da linha de fundo, onde há tempo para a bola subir após pingar dentro da quadra, ou próximo a rede, onde o jogador deve devolver a bola com um voleio, ou seja, sem deixá-la pingar.

Falamos que o tenista foi pego no “mata-burro” quando ele se posiciona dentro da quadra, entre a linha de fundo e a linha de saque, posição onde fica vulnerável, com dificuladade para a devolução da bola.

No “mata-burro” tudo fica mais difícil, já que a bola termina pingando próxima aos pés do jogador. Se vier com topspin então, aí nem um Djokovic tem chance, já que a aceleração após o contato com o solo tira completamente a bola do alcance do tenista.

Dito isso, a bolsa brasileira, assim como outros mercados emergentes,  terminou ficando num “mata-burro” em janeiro, causando a performance negativa.

Explico mais adiante.

Além das ações, os títulos do tesouro também caíram em janeiro, especialmente os atrelados a juros reais, com as NTN-Bs.
Como resultado, tivemos um mês difícil para nossas carteiras, devolvendo parte dos ganhos registrados no fim do ano passado.

Todavia, se você tem ações americanas na sua carteira, especialmente na Nasdaq e suas ações de tecnologia, você teve razões para sorrir este ano.

Os privilegiados que participaram do World Economic Forum, realizado em Davos, Suíça, relataram a proeminência do tema Inteligência Artificial para a economia mundial este ano e além.

Alguns chegaram a comparar os ganhos de produtividade da chamada AI com os derivados do advento da internet, declarando que a novidade tem potencial de superar àqueles da rede mundial de computadores.

Enquanto especula-se muito sobre o real impacto da AI, o setor de tecnologia já traz sinais concretos dos ganhos de produtividade advindos dessa notável inovação, com os resultados sendo impulsionados por maiores receitas e despesas sob controle.

As magnificent seven (Apple, Alphabet (Google), Meta, Amazon, Microsoft, Nvidia e Tesla) têm mostrado crescimento robusto nas vendas (com exceção da última), ao mesmo tempo em que seguem anunciando cortes no seu quadro de funcionários, indício claro de que os ganhos de produtividade advindos do uso da inteligência artificial já estão sendo colhidos.

A força dos resultados crescentes das empresas americanas, somada à perspectiva do iminente início dos cortes de juros por lá, têm chamado a atenção e o fluxo dos investidores – inclusive, estamos preparando um material especial sobre o mercado lá fora. 

O problema é que para o dinheiro ir para os Estados Unidos, ele tem que sair de algum lugar e parece que os chamados mercados emergentes, com o Brasil incluso, têm sido as principais fontes desses recursos. O saldo amplamente negativo dos investidores estrangeiros na B3 durante janeiro comprova essa tese.

E é aí que chegamos ao “mata-burro” de janeiro.

Os investidores brasileiros, tanto os institucionais como os de varejo, diferentemente dos gringos, ainda seguem tímidos, com pouco apetite para subir à rede adicionando risco às carteiras.

Os fundos de ações e os multimercados seguem registrando resgates líquidos, apesar de em menor escala do que no ano passado.

A bola curta deixada pelos estrangeiros ainda não tem sido aproveitada pelos locais, que seguem na defensiva, aproveitando o fim da festa da Selic de dois dígitos.

Os que avançaram, animados com os resultados do final do ano, receberam uma bola no pé, pegos no meio do caminho do ciclo de afrouxo monetário, que ainda não chegou ao ponto de reverter o fluxo doméstico.

Lembremos porém que, historicamente, a combinação de ciclos de cortes de juros tem conduzido a valorizações importantes nos ativos de risco.

Note que os juros já começaram a cair por aqui e o mesmo deve acontecer tanto nos Estados Unidos como na Europa ainda este ano.

Por conta disso, nossa equipe de análise segue confiante diante das perspectivas para nossas carteiras, especialmente na parte doméstica.

Apesar de seu início ruim, 2024 está apenas começando.  

Tivemos o saque quebrado e perdemos os primeiros games.

Como uma partida de grand slam, que pode perdurar até cinco sets, o ano é longo.

Recomendo cabeça fria e bom posicionamento.

E evite o “mata-burro”. 

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus