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Nas garras do urso

“Não sei o quanto isso pode aliviar o seu desconforto, do qual eu compartilho, sobre o impacto patrimonial que estamos sofrendo decorrente das fortes correções nos […]”.

Por Caio Mesquita

16 maio 2022, 08:40 - atualizado em 16 maio 2022, 08:40

Na manhã desta quinta-feira, enviei o post abaixo para o grupo de WhatsApp da diretoria da Empiricus/Vitreo: 

GráficoDescrição gerada automaticamente

Não sei o quanto isso pode aliviar o seu desconforto, do qual eu compartilho, sobre o impacto patrimonial que estamos sofrendo decorrente das fortes correções nos ativos de risco ao redor do mundo.

Talvez haja um certo consolo, ou alívio até, quando percebemos que a nossa perda não é somente fruto de decisões de investimento equivocadas que tenhamos feito, mas sim um ajuste inevitável diante de excessos recentes.

A destruição de valor percebida até o momento equivale ao PIB anual dos Estados Unidos e da União Europeia somados. E isso quando medimos as perdas envolvendo ativos financeiros somente.

Quando medido em percentual, o montante perdido (14%) já é comparável à crise financeira provocada pela quebra da Lehman Brothers e a implosão da bolha do subprime americano (19%).

Sabendo isso, pode-se chegar à conclusão de que estamos nos aproximando do fim da correção. Será?

Lembremos que, na crise anterior, o movimento de ajuste era derivado de uma crise de liquidez decorrente da rápida deterioração da confiança dentro do sistema financeiro.

Com um programa agressivo de intervenção monetária através da recompra de títulos, os chamados Quantitative Easings, o Fed inundou o mercado com toda a liquidez necessária para sair do enrosco. Como resultado, promoveu-se uma massiva transferência de riqueza da renda variável para a renda fixa.

A crise atual é de outra natureza. Diferentemente do que ocorreu em 2008, quando o derretimento se concentrou na renda variável, desta vez as perdas atingem fortemente o mercado de renda fixa também.

Quando percebemos isso, o post que enviei pode ser lido por outro ângulo.

Ao invés de estarmos próximos a uma resolução, tendo deixado para trás o grosso do ajuste, ainda estaríamos no período inicial de um longo período de baixa, o temido bear market.

Explico.

Se, por um lado, os títulos de renda fixa subiram em 2008 impulsionados pelas compras do Fed, por outro, o ajuste para baixo da renda variável ocorrido naquele ano foi incomparavelmente maior do que observamos até agora, de maneira a provocar, de forma agregada, o ajuste de 19% mostrado no post.

O mercado entende que se entra em um bear market quando acumula-se uma perda acima de 20% em comparação ao pico anterior. Na mesma quinta-feira em que enviei o post, a Bolsa americana (S&P 500) apresentou grande volatilidade, chegando muito próximo de furar o piso de 20% que tecnicamente a colocaria no território de bear market. 

Para entender melhor, uma matéria publicada nesta semana na Bloomberg compara a evolução do S&P 500 desde o início do ajuste atual com os dois bear markets vividos neste século:

Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente

Ao observar o gráfico, aprendemos que ajustes de 20% representam apenas o início, e não o fim de um bear market americano. Tanto na crise das empresas pontocom de 2001 quanto em 2008, o S&P caiu pela metade antes de iniciar um ciclo de recuperação.

Não há como saber se o mercado americano está efetivamente entrando num bear market, posto que a natureza da crise atual é bastante específica.  

A esperança é que encontremos um atalho, na forma de um alívio na pressão inflacionária mundial, especialmente nos EUA, que nos desvie das garras do urso.

Deixo você agora com os destaques da semana. 

Boa leitura e um abraço

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus