Difícil pensar em algo positivo em ficar velho.
A força diminui, os cabelos caem, a barriga cresce, as rugas aparecem.
É uma lenta e inexorável decadência para o mesmo destino final de todos os seres vivos.
Por outro lado, algumas (poucas) coisas boas vêm junto com os cabelos brancos.
Uma delas, claro, é a experiência acumulada com a idade que nos faz evitar os tolos erros da juventude.
É bem verdade que muitas vezes essa experiência serve, como escreveu Roberto Campos (o avô), com uma lanterna na popa apenas, ou seja, iluminando o passado que progressivamente toma a maior parte da nossa vida, estreitando a proporção ocupada pelo futuro.
Também derivada da experiência, vem a nossa capacidade de absorver qualquer tipo de informação, por mais esdrúxula que seja, sem nos surpreender.
Destarte, confesso que me surpreendi, esta semana, com a declaração de um jornalista durante um programa da Globonews.
Após a âncora repassar os números do mercado de quinta-feira, fatídico dia já batizado de “boa sorte day” após Henrique Meirelles afirmar que Lula “dilmou”, o tal jornalista, em tom de revolta, diz que o mercado é de fato bolsonarista e que, portanto, sua reação é por conta da sua rejeição à Lula e ao PT.
Inacreditável o desconhecimento desse senhor sobre as forças de mercado e a dinâmica envolvendo a formação de expectativas e o reflexo disso nos preços.
Apesar de ser inegável que a maior parte dos profissionais do mercado financeiro terem tido preferência pela reeleição do atual presidente, isso não faz com que o mercado como um todo, fruto da combinação de todos os participantes, institucionais e individuais, domésticos e internacionais, seja, como afirmou o jornalista, bolsonarista.
O que o obtuso comentarista não entende é que, por trás do que chamamos de mercado, estão pessoas que querem, o que é absolutamente natural, ganhar dinheiro e proteger seus investimentos, independentemente de quem e de qual seja o governo.
Longe do debate programático e ideológico, eu, você e todos que investem e que, em conjunto, formam o mercado, absorvemos as informações apresentadas e reagimos.
Caso as informações sejam percebidas como negativas ao comportamento dos ativos em questão, vendemos, pressionando assim os preços.
Por outro lado, quando entendemos que, diante das novas informações, os ativos se valorizarão, passamos a comprá-los, empurrando para cima sua cotação.
Em 2014, quando a Empiricus se posicionou de forma pessimista quanto à condução da política econômica do Governo Dilma, recomendando a venda das ações da Petrobras e a compra de dólar, não estávamos sendo “Aecistas”, como reclamou o próprio Partido dos Trabalhadores em uma ação no TSE.
Simplesmente entendíamos que o desequilíbrio fiscal teria efeito desastroso sobre a economia e que isso afetaria negativamente o preço das ações brasileiras e do Real, o que de fato terminou acontecendo.
Quando o mercado reage mal às críticas de Lula sobre a “tal estabilidade fiscal”, não está sendo bolsonarista como afirmou o jornalista e, sim, reagindo às intenções declaradas pelo presidente eleito.
Da mesma forma, o mercado recebeu positivamente na sexta-feira as declarações de Wellington Dias, ex-senador petista encarregado da transição de governo junto ao Congresso, que reafirmou o compromisso do Governo eleito com o cuidado das contas públicas.
É o mesmo mercado reagindo positiva ou negativamente na sua tentativa legítima de antecipar as reais intenções do Poder Executivo Federal para os próximos quatro anos.
Enquanto aguardamos um posicionamento mais claro de Lula sobre a economia, algo que ele tem se furtado a fazer desde o início da campanha, seria bem-vindo que os comentaristas políticos também descessem do palanque e passassem a ter uma postura mais analítica e menos torcedora do ambiente político atual.
Do nosso lado, como investidores, vamos seguir acompanhando e reagindo.
Afinal, pior do que ficar velho, é ficar velho e pobre.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.