
Fonte: Free Pik
Investidor de verdade tem que ser cascudo, aguentando os trancos que nos tornam mais resistentes.
Esses últimos dias, porém, têm testado a resiliência até dos mais experientes.
A cada nova declaração intempestiva do presidente Trump, ativos ao redor do mundo reprecificam de maneira abrupta, na maioria das vezes em pânico, entremeadas com pitadas de euforia.
O curto prazo virou um redemoinho de manchetes, ruídos e reações imediatas. É difícil não ser tragado.
Nesta semana, a Larissa reclamou, mais de uma vez, do meu comportamento à mesa do café da manhã, já que o celular me impedia de dar atenção às questões familiares que ela trazia.
Naturalmente, as perdas de curto prazo nos afetam. A gente sente no bolso, no humor, na ansiedade.
Mas o grande risco nem é esse. O maior risco é que essa turbulência nos tire o foco da única coisa que, de fato, constrói patrimônio de forma consistente: o longo prazo.
Então, proponho uma pausa no noticiário, lembrando do que realmente importa.
Se você plantar uma árvore hoje, amanhã ela vai ser só um gravetinho no chão. Vai demorar pra crescer. Vai passar por seca, por vento forte, por sol demais. Mas, se resistir e continuar recebendo água e cuidado, um dia vira sombra. Depois, flores. E, finalmente, frutos.
Investimentos funcionam exatamente assim.
Você começa com pouco. Natural. Olha depois de alguns meses e vê ali uma diferença mínima. Dá vontade de pensar que não vale o esforço. Que talvez fosse melhor gastar aquele dinheiro, em vez de esperar um milagre que nunca chega.
Mas o milagre chega. E ele não vem de repente. Ele vem do tempo.
Tudo que cresce de verdade cresce devagar no início. É assim com uma árvore, é assim com um corpo treinado, com uma mente educada, com alguém que aprende a tocar um instrumento ou um novo idioma. No começo é frustração. É repetição. É disciplina.
Mas um dia, sem aviso, a coisa anda. O resultado que parecia desprezível passa a ganhar força. Os frutos aparecem.
Com os investimentos, a lógica é idêntica. Os juros compostos são lentos no começo. Mas depois de um certo ponto, eles aceleram sozinhos. Porque os juros rendem sobre os juros, e depois sobre os juros dos juros. Como se a árvore tivesse passado dez anos criando raiz, pra depois ganhar o dobro de altura em um verão.
Agora, aqui vai um ponto crucial: os juros reais no Brasil são, historicamente, dos mais altos do mundo. Isso quer dizer que, mesmo sendo conservador, o seu dinheiro pode render muito no longo prazo, desde que você dê tempo ao tempo e evite tirar o investimento antes da hora.
Enquanto em países desenvolvidos as taxas reais mal passam de 1% ao ano, aqui a gente convive com 5%, 6% reais ao ano. Isso é um presente pra quem sabe aproveitar.
A única exigência é paciência. Não existe atalho.
E aqui entra outro ponto: regularidade. Aportes mensais, mesmo pequenos, são como a água diária para a planta. É a consistência que constrói. O poder dos juros compostos só aparece de verdade para quem mantém a rotina mesmo quando parece que nada está acontecendo.
O tempo premia quem é constante. E pune quem desiste cedo.
Essa lógica se aplica a quase tudo que importa: educação, treino, música, dinheiro. É sempre a mesma fórmula: esforço pequeno, diário, com horizonte longo. Tudo que cresce bem cresce devagar. Tudo que fica grande de verdade parece estagnado no começo.
É por isso que quem entende os juros compostos cedo — e respeita o tempo — muda de vida. Não precisa acertar o ativo da moda. Não precisa correr atrás de promessas milagrosas. Precisa só começar, continuar e deixar o tempo trabalhar.
Finalizo com um breve comentário sobre a atuação do presidente Trump e suas consequências.
Sempre achei que, como um bom árbitro de futebol, um bom governo deve ser discreto, quase imperceptível.
Quando falamos da arbitragem depois de um jogo, é porque algo deu errado. São os lances polêmicos que abastecem as mesas redondas e inflamam as torcidas.
Trump pode ser tudo, menos discreto. Lula também. E vivemos à mercê das declarações ruidosas de ambos, ora polêmicas, ora performáticas, quase sempre desgastantes.
Quer uma contra-prova do meu argumento? Me diga o nome de um governante suíço. Eu não sei. Talvez aí esteja parte do segredo do sucesso daquele pequeno país europeu.