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O rali dos sertões

Gestor de ações debate sobre a última década na economia e Bolsa brasileira.

Por Caio Mesquita

28 out 2024, 08:36 - atualizado em 28 out 2024, 08:36

Nesta semana, nossos amigos do Market Makers conversaram com o Maurício Bittencourt, renomado gestor de ações e sócio-fundador da Velt Partners.

Caso ainda não tenha feito, recomendo fortemente que assista (ou ouça) o episódio. Tendo como tema de fundo “a década perdida da Bolsa brasileira”, o programa traz ótimos insights sobre os desafios de investir em renda variável no Brasil.

Em um clima de retrospectiva, Bittencourt mostra elogiável humildade ao admitir os erros que afetaram a performance do seu fundo, após incríveis 12 anos consecutivos de retornos positivos no período de 2009 a 2020.

No programa, o gestor discorre sobre os problemas enfrentados por algumas de suas principais posições em carteira, como Natura (NTCO3), Alpargatas (ALPA4) e Hapvida (HAPV3).

A história da Velt não é exceção e, sim, segue o padrão dos que têm carregado exposição a ações brasileiras, fortemente depreciadas desde o início, em 2021, do ciclo de alta de juros promovido pelos Fed.

Para melhor ilustrar sua análise, Bittencourt compartilha o resultado acumulado do IBX nos últimos dez anos, quando o índice acumulou uma valorização nominal de 142%, perdendo para um CDI, sem volatilidade, no mesmo período de 150%.

Essa comparação, uma demonstração matemática do que seria essa década perdida, explica o atual clima de desânimo que tem dominado o espírito de todos que têm dinheiro investido em nossa Bolsa.

E sendo a Bolsa uma representação das principais empresas brasileiras, é inevitável a constatação de que tal resultado negativo advém, em grande parte, das dificuldades que o nosso setor privado vem enfrentando na última década.

Aqui Bittencourt traz outra estatística impressionante. Nos últimos dez anos, nossa economia cresceu uma média anual pífia de 0,7%, incluindo aí nosso pujante setor agrícola. Como comparação, na década perdida dos anos oitenta, nosso crescimento econômico foi mais que o dobro disso, com uma média anual de 1,6%.

O lado bom disso – e o gestor realça esse ponto – fica pela própria natureza cíclica na economia. Como longos períodos ruins geralmente são sucedidos por anos de bonança, talvez estejamos nos aproximando de um ambiente mais construtivo para as empresas brasileiras, especialmente se o pêndulo político continuar seu rumo à direita.

Em sua precisa análise, Bittencourt também compartilha uma visão sobre os desafios do empresário brasileiro que traz bons ensinamentos aos que já empreendem e aos que almejam empreender por aqui.

Diferente de uma autobahn alemã, o ambiente brasilero seria uma estrada de terra, escorregadia e esburacada, onde o controle teria muito mais valia do que velocidade.

Com voláteis ambientes macro e micro – e Bittencourt cita os drásticos aumentos das taxas de juros com um exemplo – cabe ao empresário brasileiro manter níveis de prudência que seriam percebidos como exagerados em economias mais estáveis.

Tradicionalmente, empresários brasileiros priorizam balanços robustos, afastando-se de estratégias alavancadas, e mantém o foco no negócio, com pouco apetite para diversificação, seja orgânica ou através de aquisições.

Bittencourt nos lembra das empresas tradicionalmente sólidas que, após adotarem posturas demasiadamente arrojadas, fugindo da nossa tradição, tiveram suas expectativas frustradas, sendo forçadas a recuar.

Aqui também há um aspecto positivo para quem empreende no Brasil já que a mesma volatilidade que insiste em nos chacoalhar, abre oportunidades para que novos entrantes aproveitem os erros.

O próprio Bittencourt elogia, ao final de sua participação, a nossa vocação empreendedora, que confere ao Brasil uma posição de destaque quando comparado aos seus pares internacionais.

De qualquer forma, e parafraseando o que me disse certa vez um amigo português, “o Brasil é excelente para ganhar dinheiro, mas tem que se manter sempre a mão no caixa”. 

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus

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