“Ah, os americanos são muuuuuito melhores…”
Era esse o bordão de Marquinho, personagem do trio humorístico “Sobrinhos do Ataíde”, de muito sucesso nas rádios dos anos 90.
Com seu carregado sotaque paulistano, Marquinho explicava ao pai, o Seu Gilmar, a óbvia superioridade de algo americano sobre qualquer que fosse a comparação com o equivalente brasileiro.
Via de regra, concordamos com o Marquinho. A hegemonia americana, especialmente em temas econômicos, é inegável. O seu setor privado, com sua quase inesgotável capacidade de produzir empresas notáveis, é incomparavelmente superior ao encontrado em qualquer outro país.
Na Empiricus, tivemos o privilégio de ser sócios do grupo americano The Agora por cerca de oito anos. Não há como colocar um preço na contribuição feita pelo time de Bill Bonner para o nosso negócio. Sua colaboração foi fundamental para a estruturação da Empiricus como líder do setor de investimentos para os brasileiros.
Nas últimas semanas, a frase de Marquinho tem se repetido na minha cabeça, mas com o sinal trocado.
Acostumados a admirar os Estados Unidos, ficamos chocados ao observar a barbeiragem feita pelos bancos de lá na gestão de seus ativos e passivos.
Em um pronunciamento recente, André Esteves, chairman do BTG Pactual, grupo do qual a Empiricus faz parte, afirmou que qualquer analista junior brasileiro teria feito um trabalho melhor do que os gestores do Silicon Valley Bank (SVB), a primeira vítima da atual crise bancária americana.
Para relembrar, o SVB destruiu todo o seu patrimônio por permitir um descasamento entre as taxas (baixas) de juros do seu ativo e as taxas (altas) dos seus passivos.
Resumidamente, a rentabilidade de seus empréstimos ficou travada nos níveis anteriores ao início do ciclo de elevação dos juros promovido pelo FED.
Para fazer frente aos resgates de seus clientes, o banco foi forçado a liquidar parte de seus ativos a um valor muito abaixo do contabilizado. Uma simples marcação a mercado já teria sido suficiente para antecipar o que estava acontecendo, mas não foi feita.
Quando todos viram que o rei estava nu, correram para resgatar seus depósitos e veio o colapso.
Logo em seguida, foi a vez do Signature Bank dobrar os joelhos sob o peso de massivos resgates. Estava claro então que não se tratava de questões particulares e sim de um problema sistêmico nas instituições financeiras americanas de médio porte.
O atual ciclo de aperto monetário expôs a deficiente regulação bancária dos americanos. Após um abril relativamente tranquilo, a dor de barriga voltou em maio, com o First Republic tendo sua venda forçada ao JP Morgan.
Para remediar, os bancos regionais vêm tentando manter sua lucratividade oferecendo taxas artificialmente baixas em seus depósitos, contribuindo para perdas crescentes de recursos que, por sua vez, retroalimentam negativamente sua posição de liquidez.
Comparativo entre taxas de mercado e de depósitos bancários
Enquanto isso, contradizendo o Marquinho, os bancos brasileiros têm se saído muito melhor ao longo do nosso processo de aperto monetário. Há problemas sim, especialmente relacionados com crédito, mas nada que se aproxime ao desequilíbrio que aflige as instituições americanas.
Voltando aos Estados Unidos, com tamanha (e justificada) preocupação, investidores têm se refugiado em ativos que oferecem proteções a crises sistêmicas como o ouro e as criptomoedas, com o Bitcoin finalmente honrando sua alcunha de digital gold.
Ademais, ativos de mercados emergentes em geral, e brasileiros especificamente, também têm sido beneficiados pela instabilidade nos Estados Unidos, dada a maior necessidade de cautela por parte do Fed no manejo da taxa de juros. O comportamento recente de dólar, juros e bolsa já indicam essa tendência.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,