“Mother should I run for president
Mother should I trust the government
Mother will they put me in the firing line
Ooooh aah, is it just a waste of time”
“Mother”, Roger Waters
Depois de uma parada por conta das minhas férias com a família, volto com a primeira newsletter do ano.
Para mim, este dia que escrevo, 20 de janeiro, é da mais triste memória.
Há 16 anos, nesta data, minha mãe se foi.
A insuperável saudade é, em parte, remediada pela feição dos meus filhos, que ela não chegou a conhecer, carregados pelo seu DNA.
Emocionado, escrevo ainda distante, na véspera da volta ao Brasil.
Da Europa acompanhei, com preocupação, o noticiário do nosso país.
O começo do novo governo tem conseguido surpreender negativamente até mesmo os mais pessimistas.
Antes da posse, havia a crença de que a experiência de Lula garantiria certa responsabilidade na condução de seu governo, nos protegendo das maluquices esquerdistas dos seus companheiros de partido e de sua base aliada.
De fato, depois dos disparates emitidos pelos novos ministros, Lula deu uma chamada na turma, naquela reunião de enquadramento com todos os seus comandados diretos.
Após alguns dias de calmaria, permitindo inclusive uma boa performance dos mercados, com bolsa subindo e dólar e juros caindo, foi a vez de o Presidente subir novamente no palanque, voltando a assustar.
Primeiro, em reunião com sindicalistas, fez promessas de ajustes ao salário mínimo e à tabela de imposto de renda que, se adotadas, destroçariam a nossa combalida situação fiscal, adicionando um rombo potencial de R$ 100 bilhões ao ano.
O pior, porém, ficou para a inusitada entrevista à GloboNews, onde voltou a apresentar um falso antagonismo entre prioridades sociais versus fiscais.
Além disso, Lula aproveitou para criticar a independência do Banco Central, afirmando que seria bobagem acreditar que tal autonomia faria alguma diferença na condução da política econômica.
Por fim, veio o anacrônico e injustificado ataque aos empresários brasileiros.
Resgatando o ultrapassado conceito marxista da luta de classes, Lula afirmou que o empresário “não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou, ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores dele trabalharam”.
Comportamento e discurso estranho para quem se elegeu (com apertadíssima margem, lembremos) com o slogan “União e Reconstrução”.
Nestas primeiras semanas de seu governo, Lula segue com a mesma conduta errática e de difícil compreensão que apresentou durante sua campanha, pendulando entre o estadista experiente e o ex-condenado revanchista.
Tenho para mim a teoria de que seu novo casamento tem afetado Lula. A companhia de Janja, mais nova e com intensa atuação política, pode estar incentivando uma atuação mais claramente à esquerda do Presidente. Antes e acima do cargo, estão as pessoas e suas relações afetivas.
Além da política, o nosso noticiário tem sido dominado pelo espetacular debacle da Americanas, até há pouco uma das joias da coroa do poderoso trio Lemann/Sicupura/Telles.
Como sócio do Banco BTG Pactual, um dos maiores credores da Americanas, e CEO de uma das empresas do Grupo, tenho conflito em tratar do assunto.
De forma objetiva, porém, posso afirmar que se trata da maior fraude contábil da história do nosso mercado de capitais, com consequências negativas e graves a todos os stakeholders da Companhia.
Independentemente de como se dará a conclusão do caso, parece inevitável que a reputação dos míticos “acionistas de referência” da Americanas estará manchada de forma irreversível.
Esperemos que haja uma apuração célere, algo difícil pelos montantes envolvidos, e que os culpados sejam exemplarmente punidos.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.